sábado, 27 de fevereiro de 2016

Corredor da morte


Há algumas semanas, eu assisti a um documentário sobre uma prisão de segurança máxima nos EUA. Eles entrevistaram um cara de vinte e poucos anos que esteve no corredor da morte, mas que a sua pena foi alterada para prisão perpétua. O entrevistador pediu para que ele falasse um pouco sobre como era estar lá. Ele respondeu: “Você não tem ideia. Quando você está no corredor da morte, é como se você já estivesse morto. Você tenta fazer alguma coisa para se distrair, mas é como se ouvisse um relógio em sua cabeça. Você sabe que a data da sua extinção já foi determinada e que é só uma questão de dias, horas, minutos. Você pode ler um livro, assistir TV, mas para quê? Você vai morrer em breve e isso não faz sentido mesmo no fim das contas.” Ele ficou emocionado ao acrescentar: “Eu tive minha vida de volta quando saí do corredor da morte.”
Eu parei em frente à tela do notebook e subconscientemente reagi a sua descrição em um espírito de camaradagem. Era como se eu sentisse que aquele homem e eu compartilhávamos uma rara experiência.
Até que eu me tornei ciente da minha reação. De onde veio isso? Como é que uma menina de 18 anos, de classe média e que nunca sequer esteve em uma prisão tem a menor ideia do que um ex-prisioneiro do corredor da morte estava falando?
E então eu percebi. Porque anos atrás, quando eu comecei a me questionar sobre Deus, quando teimei em deixar lentamente para trás os conceitos de uma vida após essa vida, eu vivi em um corredor da morte.
O ateu Bertrand Russel certa vez apontou que todos os nossos esforços ao fim da vida deverão ser multiplicados por zero.
A data da nossa extinção estava chegando, estava mais perto a cada segundo. A única diferença entre um prisioneiro de corredor da morte e qualquer outra pessoa era que o prisioneiro sabia a data. Por que jogar cartas? Por que assistir TV? Por que ler um livro? Claro, você pode ter algum prazer momentâneo e ganhar algum conhecimento, mas é tudo fugaz e tudo vai desaparecer, juntamente com você, em seu extermínio iminente. O tempo estava passando. Éramos todos homens mortos andando.
Parecia errado. Profundamente errado. Desconfortavelmente errado.
Lentamente me forcei a deixar esse sentimento para trás ainda que eu precisasse entrar no modo “caixinha do nada” no meu cérebro às vezes, e comecei a redescobrir o cristianismo.
Bom, essa é outra história.
Mas depois de tantos questionamentos, depois de tantos “Que diabos é essa passagem aqui???” Depois de uma fase de lacunas, eu pude ver a verdade do cristianismo. Eu pude entender porque cada civilização na história da humanidade curiosamente se baseava no divino. Eu pude entender por que esse livro preto e por que esse homem falando que era Deus.
Eu não entendia a princípio, mas a vida parecia mais completa de uma certa maneira. Pode parecer óbvio, mas eu não conseguia dizer o que era. Sempre foi tão abstrato.
Até que depois de algum tempo, eu estava passando os canais e vi uma reportagem que me fez pensar mais uma vez sobre a brevidade da vida (o mundo seria um lugar muito melhor se todos nós parássemos para refletir sobre isso um pouco, não é à toa que o salmista nos ensina a contar os nossos dias para alçarmos um coração sábio). E então eu percebi o que era essa nova coisa surgindo dentro de mim. Vida. Eu não estava mais com medo. Qualquer rastro de pensamento sombrio havia ido embora. Eu não tinha mais medo de morrer, embora eu quisesse viver cada dia que tenho direito e cumprir o meu propósito. Mas isso não mais me atormentava.
Eu vi como se nós nascêssemos em um mundo que está cercado de todos os lados. Um mundo fechado. Um lugar claustrofóbico.
Jesus veio e nos ensinou a pular. Pular essa cerca.
Eu posso ver o outro lado. Pastos verdejantes.
Naquele momento eu percebi que eu tinha passado minha vida falsamente condenada a um corredor da morte. E bem... agora eu estava livre.

“E nosso testemunho é esse: que Deus nos concedeu a vida eterna, e essa vida está em seu Filho!” (1 João 5:11)
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segunda-feira, 8 de fevereiro de 2016

O pai da mentira


Quando eu comecei a explorar de verdade o cristianismo pela primeira vez, uma das coisas que eu nunca entendi era por que diabos o diabo era chamado de “pai da mentira”. Parecia uma espécie de definição aleatória. Quer dizer, a mentira é ruim, mas há coisas piores, certo? Por que não pai do ódio, da raiva, da crueldade? Francamente, o pai da mentira não parecia tão ameaçador para mim.
E então eu comecei a notar algo.
Graças aos escritos de C. S. Lewis, comecei a perceber que todos os seres humanos ao longo da história tiveram a noção de que nós deveríamos estar fazendo o que é certo e bom. Quase ninguém diz: “Hoje eu acordei com vontade de fazer algo ruim e mal! ” Nem mesmo Hitler pensava dessa forma. Hitler alegava estar fazendo algo de bom para o seu país.
Todos nós temos uma necessidade de nos sentirmos “pessoas boas”. Ainda assim temos uma tendência muito forte de fazer coisas que não parecem tão boas. E foi quando eu notei como essas duas forças se chocam que percebi de onde o diabo tira o seu apelido. Com a nossa repulsa inata pela simples ideia de fazer algo mal, existe apenas uma forma de o mal florescer: através de mentiras.
Estupradores dizem que a mulher queria ou merecia. Ladrões dizem a si mesmos que eles precisam daquela mercadoria e que aquela empresa não vai nem notar de qualquer maneira. Quando uma criança desejada nasce, ela é tratada como um ser precioso. Mas quando é indesejada, é tratada como apenas um feto.
Quando esse entendimento me veio, comecei a ver exemplos em todos os lugares, incluindo em mim mesma. Não é preguiça, é porque eu não tenho tempo. Eu só estou criticando para te alertar. Eu não estou sendo cruel, eu estou respondendo às pessoas como elas merecem.
Não demorou muito para que eu percebesse que era completamente através de mentiras que eu fazia escolhas más. Eu nunca disse: “Essa escolha que eu estou tomando é má e errada, mas eu não me importo”. Eu sempre tive uma boa história para contar sobre o porquê de eu estar fazendo aquilo.
Mentiras.
Quando paro para pensar sobre quais justificativas usava para dizer que o bem e o mal eram uma questão de opinião, e que não há verdade, percebo o quanto o relativismo moral é perigoso. Vejo agora que o bom está diretamente ligado a dizer a verdade, enquanto o mal está diretamente ligado a dizer a mentira.
Você não pode buscar a verdade se não acredita que ela existe. A partir de experiências pessoais comecei a entender que a coisa mais prejudicial que uma pessoa pode dizer a si mesma é que não há verdade objetiva. Porque o mal está sempre à espreita, esperando para oferecer uma boa e arrumada história para que você diga o porquê de as coisas ruins não são serem tão ruins assim.
E quando a definição de bem e mal não se amarram a uma definição de verdade absoluta, que vai além das nossas opiniões humanas, torna-se fácil deslizar para um caminho perigoso.
Cheguei a achar que os ateus eram mais livres que pessoas que acreditavam em Deus. Afinal, não teriam mais regras e regulamentos bizarros para se atolar. Agora, entendo que essas “regras” são na verdade um conjunto de ferramentas, uma chave para abrir as algemas do pecado, uma bússola que nos ajuda a navegar pelas águas turbulentas que todos nós nos encontramos.
Conhecer a Deus é conhecer a verdade, e sem verdade é impossível ser livre.

*Nota: A partir de agora, começarei a postar um pouco mais sobre razão, fé e apologética. Fiquem atentos! 
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