quinta-feira, 7 de abril de 2016

Salvo? Ser salvo de quê?


Recentemente eu conversei com uma pessoa e ela estava questionando a minha fé, uma frase que ela disse imediatamente me chocou: “Salvo? Ser salvo de quê?” Bom, isso é mais comum do que pensamos. Sobretudo em países desenvolvidos onde o relativismo tem aumentado drasticamente. Quando estamos em nossa vida comum, quando não temos com o que nos preocupar, quando está tudo sobre controle, há uma sensação lá no fundo de nós que ainda questiona: Ser salvo de quê?
(Esse questionamento é automaticamente extinguido quando você conversa com um casal de pais que teve a sua filha abusada sexualmente anos e anos por alguém próximo, ou quando vemos alguém inocente com uma bala na testa, ou algo do tipo. Mas eu vou tentar explicar didaticamente.)
Vamos começar do começo. A bíblia explica a história do mal, ela provavelmente é o único livro que se dedica quase que completamente em responder em responder essas questões.
Temos que em um lugar perfeito, onde Deus era adorado por anjos dia após dia, todos vivendo em harmonia e em completa paz, um anjo se rebela, acusando Deus de ser tirano e quer elevar o seu trono acima do de Deus. O mistério da iniquidade. Como pode em um lugar perfeito alguém se rebelar? Mas olha, como pode em um lugar perfeito alguém não poder se rebelar?
Tempo não é algo que existia ainda, mas eu vou dizer que foram vários anos de guerra no céu. Até que Lúcifer foi expulso e com ele levou um terço dos anjos. A bíblia diz que nele havia uma multidão de pecados, não um, não dois, uma multidão.
Lúcifer seduzia anjos que viviam em plenitude ao lado de Deus a achar que Deus era tirano e que exigia obediência cega dos seus subordinados. Mas, espera, se Deus exigia obediência cega como eles iriam se rebelar?
Estava criado o mal. Não exatamente criado, pois ele não é uma substância por assim dizer, mas sim a ausência do bem. Assim como o frio é a ausência do calor.
Deus dá início então a uma nova dimensão que contêm tempo e espaço. E em procura de alguém, diferente dos anjos, para ter um relacionamento de intimidade, cria o homem. Imbuído de livre-arbítrio e de TODA a natureza de Deus, o homem viveria agora em completa harmonia com o seu Criador. O seu propósito não era só adoração, era um relacionamento vivo onde o homem era o ser mais privilegiado de todas as eternidades passadas: Ele tem acesso ao coração de Deus, não apenas a glória, não apenas ao poder, não apenas ao seu sorriso distante, mas ao seu próprio coração. Deus se tornou sondável.
De todo um universo de possibilidades, Deus cria então uma faixa de gaza, um árvore, onde o homem poderia ser tentado por satanás, o antigo Lúcifer. Pois ele não é tirano.
O mistério da iniquidade. Satanás seduz o homem de forma que ele pense que ao comer o fruto da árvore, ele se torne como Deus. Sim, satanás seduziu o homem para comer o fruto da árvore do mal e em troca ele teria o que ele sempre teve: a imagem a semelhança do Criador.
ADIVINHA O QUE ELE FAZ????
Deixe eu te dizer uma coisa: Ninguém entendeu nada. Os anjos não entenderam nada, os seres criados por Deus não entenderam nada. E, sinceramente, eu não entendi nada.
Estavam abertos os portais do sofrimento, e o homem não mais poderia viver no lugar perfeito. Imagine o primeiro espinho ao entrar em contato com a pele, imagine o primeiro sangue a ser derramado.
Mas não, Deus não se conformou. Ele não iria perder o homem como perdeu Lúcifer. Ao homem ele tinha dado a sua glória, ao homem ele tinha dado a sua imagem, ao homem ele tinha dado os seus olhos, a sua dedicação exclusiva, ao homem ele tinha dado o seu coração.
Mas o homem precisava entender isso. O homem tinha que perceber o que ele perdeu, para saber então que ele poderia ganhar de volta, porque Deus estava dando uma nova chance. Deus estava mandando um cruz. Para Adão? Para mim? Para você? Não, para si mesmo.
Há uma longa história entre a queda e a cruz. Mas Deus começou a contá-la de um jeito simples: Não é o conhecimento do bem e do mal que você quer? Ele cria algo chamado lei. A lei era para provar ao homem que ele precisa do seu Criador para ser completo de novo. A lei veio para provar que não podemos conquistar o Éden de novo sem o favor imerecido de Deus.
O homem precisava conhecer a morte através do pecado, para posteriormente conhecer a vida através de Cristo. Então Deus se faz refém do seu próprio amor.
O homem precisou de milhares de anos, sacrifício após sacrifício, morte após morte, sangue, guerras, para entender que havia um resquício de glória nele que clamava pelo Éden.
O homem queria ser como Deus e pecou. Então Deus se fez como homem e o salvou.
Não há metáforas que expliquem esse amor.
Mas existe uma palavra que chega perto: graça. Graça que eu e você não podemos entender.
Ele está nos restaurando o Éden! Através da lei? Através de regras? Através de boas obras? Não, através de graça. Se pudéssemos alcançar os céus com nossas próprias asas, que tipo de céu seria esse? Um céu equivalente aos meus esforços não seria nem de longe um céu.
Por isso, não há competição entre graça e lei. Somos salvos pela lei? De modo algum! É impossível ser salvo por ela, pois ela nos condena. E a graça nos salva do pecado que a lei nos mostra. Só existe graça porque existe lei. Afinal, se não há lei, seremos salvos de quê?
Essa é uma história que ainda está sendo contada. E no final, Deus acabará com o mal e nos restaurará perfeitamente à posição original.
Mas há um plano de salvação que está em andamento agora. E eu quero ser parte dele. Eu quero saber o que Deus está fazendo ao redor do mundo nesse exato momento. Deus está redimindo a sua criação e eu quero que ele conte comigo.
Porque, no fim das contas, não é incrível como Ele olhou para esse mundo e fez dele a menina dos seus olhos?
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domingo, 20 de março de 2016

A ira do Senhor


Qual é a sua primeira reação ao ouvir a palavra “ira”?
Medo?
Será que realmente entendemos o que essa palavra significa? Será que não criamos uma teologia baseada em opressão?
Por muito tempo eu tive medo da ira de Deus. Na verdade, é normal se sentir assim quando você nasce em uma sociedade altamente religiosa. E quando falo “religiosa”, não estou delimitando meu discurso. Uma sociedade que está aderindo o ateísmo pode ser muito religiosa. Não é o que está acontecendo?
Bom, o cristianismo tem uma anomalia: Apesar de ser considerado uma religião, ele se torna cada vez mais puro a medida em que se afasta dela. Ou seja, o cristianismo de uma forma bem escancarada diz que os nossos deuses são muito retrógrados, não são muito diferentes do deus-sol, e que na verdade as prostitutas e os publicanos entrarão adiante dos religiosos no reino dos céus. Chocante, não é? Se é para nós, imagine quando Jesus disse isso no primeiro século.
Mas de que forma a religião se relaciona com a nossa concepção da ira de Deus? Simples, o principal discurso da religião é a ira. Ira como uma ameaça. Ira como fogo que nos consumirá se a nossa performance não for muito boa. Deus está agindo em graça, misericórdia e amor, mas Ele é uma bomba relógio, e vai explodir em ira a qualquer momento.
Isaías diz, no capítulo 2 de seu livro, que Deus haverá de trocar as lanças por foices. Ele está falando de juízo. Está para chegar o dia em que o Senhor trocará as nossas armas letais por instrumentos agrícolas. Arar, semear, colher, cultivar a terra como uma referência a uma era futura em que sangue não mais precisará ser derramado, não mais discursos de ódio, não mais guerra. Essa é a ira do Senhor.
Muitas pessoas quando têm um encontro o verdadeiro amor de Deus, ficam tão extasiadas que chegam a não conseguir mais ver um Deus irado. Isso aconteceu comigo. Como pode um Deus tão maravilhoso se irar?
É aí que a história começa. Porque nós vemos amor e ira como opostos. Porque nós temos uma visão errada de amor. Ou de ira. Ou dos dois.
Ira não é o contrário de misericórdia e de graça. Ou você não lembra que nEle não há sombra de variação?
A bíblia enfatiza que as misericórdias do Senhor não têm fim. NÃO. TÊM. FIM.
Não, não, nós entendemos tudo errado. Estamos entendendo tudo errado desde o começo de tudo.
O amor desperta a verdadeira ira. Não existe amor sem ira. E Deus colocou em nós a capacidade de amarmos a ponto de nos revoltarmos.
Podemos até dizer que não podemos conceber um Deus irado, mas sim, nós podemos. Na verdade, é só nisso que pensamos.
Sempre que nós ouvimos relatos de mulheres sendo violentadas.
Sempre que algum líder político cala a oposição com tortura e opressão.
Sempre que vemos o lucro acima da vida humana.
Como Deus reage quando vê uma criança sendo obrigada a se prostituir? Como reage ao ver um povo faminto enquanto os comandantes militares se apropriam de toda comida do país?
COM IRA!
Que tipo de Deus não ficaria irado com a política que rouba as economias de milhares de pessoas?
Como diz Isaías, Deus irá trocar nossas lanças por foices. Deus agirá decisivamente em favor daqueles que alguma vez foram esmagados pelo sistema. Que sofreram abuso, foram explorados, esquecidos ou maltratados.
Deus irá reestabelecer shalom.
Deus irá convergir em Cristo todas as coisas.
Deus dirá não para a injustiça.
Deus tirará os órfãos da rua.
Deus dirá “nunca mais” à opressão que pesa sobre o fraco e desprotegido.
Deus declarará a extinção de armas.
Deus vai se irar por amor a sua criação. Deus vai, eu sei que Ele vai. E se os seus olhos estão abertos para o sofrimento do mundo, para todas as coisas que estão erradas aqui, se você por vezes acorda com um sentimento de fugacidade, uma vontade de voltar para casa, você, assim como eu, mal pode esperar pelo dia em que Ele virá.
Justiça e misericórdia dão as mãos e se beijam, caminham juntas para a era que há de vir. Uma era complexa, participativa e livre de toda morte, destruição e desespero.
Deus trocará as nossas lanças por foices. Ele dirá “basta” para toda e qualquer ameaça à paz que Ele deseja para a criação.
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sábado, 27 de fevereiro de 2016

Corredor da morte


Há algumas semanas, eu assisti a um documentário sobre uma prisão de segurança máxima nos EUA. Eles entrevistaram um cara de vinte e poucos anos que esteve no corredor da morte, mas que a sua pena foi alterada para prisão perpétua. O entrevistador pediu para que ele falasse um pouco sobre como era estar lá. Ele respondeu: “Você não tem ideia. Quando você está no corredor da morte, é como se você já estivesse morto. Você tenta fazer alguma coisa para se distrair, mas é como se ouvisse um relógio em sua cabeça. Você sabe que a data da sua extinção já foi determinada e que é só uma questão de dias, horas, minutos. Você pode ler um livro, assistir TV, mas para quê? Você vai morrer em breve e isso não faz sentido mesmo no fim das contas.” Ele ficou emocionado ao acrescentar: “Eu tive minha vida de volta quando saí do corredor da morte.”
Eu parei em frente à tela do notebook e subconscientemente reagi a sua descrição em um espírito de camaradagem. Era como se eu sentisse que aquele homem e eu compartilhávamos uma rara experiência.
Até que eu me tornei ciente da minha reação. De onde veio isso? Como é que uma menina de 18 anos, de classe média e que nunca sequer esteve em uma prisão tem a menor ideia do que um ex-prisioneiro do corredor da morte estava falando?
E então eu percebi. Porque anos atrás, quando eu comecei a me questionar sobre Deus, quando teimei em deixar lentamente para trás os conceitos de uma vida após essa vida, eu vivi em um corredor da morte.
O ateu Bertrand Russel certa vez apontou que todos os nossos esforços ao fim da vida deverão ser multiplicados por zero.
A data da nossa extinção estava chegando, estava mais perto a cada segundo. A única diferença entre um prisioneiro de corredor da morte e qualquer outra pessoa era que o prisioneiro sabia a data. Por que jogar cartas? Por que assistir TV? Por que ler um livro? Claro, você pode ter algum prazer momentâneo e ganhar algum conhecimento, mas é tudo fugaz e tudo vai desaparecer, juntamente com você, em seu extermínio iminente. O tempo estava passando. Éramos todos homens mortos andando.
Parecia errado. Profundamente errado. Desconfortavelmente errado.
Lentamente me forcei a deixar esse sentimento para trás ainda que eu precisasse entrar no modo “caixinha do nada” no meu cérebro às vezes, e comecei a redescobrir o cristianismo.
Bom, essa é outra história.
Mas depois de tantos questionamentos, depois de tantos “Que diabos é essa passagem aqui???” Depois de uma fase de lacunas, eu pude ver a verdade do cristianismo. Eu pude entender porque cada civilização na história da humanidade curiosamente se baseava no divino. Eu pude entender por que esse livro preto e por que esse homem falando que era Deus.
Eu não entendia a princípio, mas a vida parecia mais completa de uma certa maneira. Pode parecer óbvio, mas eu não conseguia dizer o que era. Sempre foi tão abstrato.
Até que depois de algum tempo, eu estava passando os canais e vi uma reportagem que me fez pensar mais uma vez sobre a brevidade da vida (o mundo seria um lugar muito melhor se todos nós parássemos para refletir sobre isso um pouco, não é à toa que o salmista nos ensina a contar os nossos dias para alçarmos um coração sábio). E então eu percebi o que era essa nova coisa surgindo dentro de mim. Vida. Eu não estava mais com medo. Qualquer rastro de pensamento sombrio havia ido embora. Eu não tinha mais medo de morrer, embora eu quisesse viver cada dia que tenho direito e cumprir o meu propósito. Mas isso não mais me atormentava.
Eu vi como se nós nascêssemos em um mundo que está cercado de todos os lados. Um mundo fechado. Um lugar claustrofóbico.
Jesus veio e nos ensinou a pular. Pular essa cerca.
Eu posso ver o outro lado. Pastos verdejantes.
Naquele momento eu percebi que eu tinha passado minha vida falsamente condenada a um corredor da morte. E bem... agora eu estava livre.

“E nosso testemunho é esse: que Deus nos concedeu a vida eterna, e essa vida está em seu Filho!” (1 João 5:11)
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segunda-feira, 8 de fevereiro de 2016

O pai da mentira


Quando eu comecei a explorar de verdade o cristianismo pela primeira vez, uma das coisas que eu nunca entendi era por que diabos o diabo era chamado de “pai da mentira”. Parecia uma espécie de definição aleatória. Quer dizer, a mentira é ruim, mas há coisas piores, certo? Por que não pai do ódio, da raiva, da crueldade? Francamente, o pai da mentira não parecia tão ameaçador para mim.
E então eu comecei a notar algo.
Graças aos escritos de C. S. Lewis, comecei a perceber que todos os seres humanos ao longo da história tiveram a noção de que nós deveríamos estar fazendo o que é certo e bom. Quase ninguém diz: “Hoje eu acordei com vontade de fazer algo ruim e mal! ” Nem mesmo Hitler pensava dessa forma. Hitler alegava estar fazendo algo de bom para o seu país.
Todos nós temos uma necessidade de nos sentirmos “pessoas boas”. Ainda assim temos uma tendência muito forte de fazer coisas que não parecem tão boas. E foi quando eu notei como essas duas forças se chocam que percebi de onde o diabo tira o seu apelido. Com a nossa repulsa inata pela simples ideia de fazer algo mal, existe apenas uma forma de o mal florescer: através de mentiras.
Estupradores dizem que a mulher queria ou merecia. Ladrões dizem a si mesmos que eles precisam daquela mercadoria e que aquela empresa não vai nem notar de qualquer maneira. Quando uma criança desejada nasce, ela é tratada como um ser precioso. Mas quando é indesejada, é tratada como apenas um feto.
Quando esse entendimento me veio, comecei a ver exemplos em todos os lugares, incluindo em mim mesma. Não é preguiça, é porque eu não tenho tempo. Eu só estou criticando para te alertar. Eu não estou sendo cruel, eu estou respondendo às pessoas como elas merecem.
Não demorou muito para que eu percebesse que era completamente através de mentiras que eu fazia escolhas más. Eu nunca disse: “Essa escolha que eu estou tomando é má e errada, mas eu não me importo”. Eu sempre tive uma boa história para contar sobre o porquê de eu estar fazendo aquilo.
Mentiras.
Quando paro para pensar sobre quais justificativas usava para dizer que o bem e o mal eram uma questão de opinião, e que não há verdade, percebo o quanto o relativismo moral é perigoso. Vejo agora que o bom está diretamente ligado a dizer a verdade, enquanto o mal está diretamente ligado a dizer a mentira.
Você não pode buscar a verdade se não acredita que ela existe. A partir de experiências pessoais comecei a entender que a coisa mais prejudicial que uma pessoa pode dizer a si mesma é que não há verdade objetiva. Porque o mal está sempre à espreita, esperando para oferecer uma boa e arrumada história para que você diga o porquê de as coisas ruins não são serem tão ruins assim.
E quando a definição de bem e mal não se amarram a uma definição de verdade absoluta, que vai além das nossas opiniões humanas, torna-se fácil deslizar para um caminho perigoso.
Cheguei a achar que os ateus eram mais livres que pessoas que acreditavam em Deus. Afinal, não teriam mais regras e regulamentos bizarros para se atolar. Agora, entendo que essas “regras” são na verdade um conjunto de ferramentas, uma chave para abrir as algemas do pecado, uma bússola que nos ajuda a navegar pelas águas turbulentas que todos nós nos encontramos.
Conhecer a Deus é conhecer a verdade, e sem verdade é impossível ser livre.

*Nota: A partir de agora, começarei a postar um pouco mais sobre razão, fé e apologética. Fiquem atentos! 
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sexta-feira, 1 de janeiro de 2016

Shanah tovath


Você sabia que judeus tradicionalmente não desejam uns aos outros “feliz ano novo”?
Ao invés disso, eles dizem a frase hebraica “shanah tovath”, a qual transmite a esperança de um bom ano, ao invés de um “feliz ano” e a razão para essa distinção tem um grande significado por trás.
A revista “Atlantic Monthly” trouxe um artigo incrível intitulado “Há mais razões na vida do que simplesmente ser feliz". O autor, Emily Esfahani Smith, aponta que pesquisadores estão começando a advertir contra a busca simplesmente da felicidade. Eles descobriram que uma vida com propósito é melhor do que uma vida feliz em muitos aspectos. Os psicólogos descobriram que aqueles que esperam sempre receber da vida estão buscando uma vida feliz, enquanto que aqueles que estão dispostos a dar na vida, estão buscando uma vida com propósito.
A felicidade sem propósito é caracterizada por uma vida superficial e relativa onde as coisas vão bem, necessidades e desejos são facilmente satisfeitos, dificuldades são evitadas. As pessoas felizes obtêm alegria em receber, enquanto as pessoas com propósito obtêm alegria em dar aos outros, escreve o autor.
Kathleen Vohs, autora de um novo estudo publicado na revista “The Journal of Positive Psychology” diz: “Pessoas que buscam a felicidade obtêm alegria ao receber benefícios de outras pessoas, enquanto as pessoas que buscam um propósito obtêm alegria em compartilhar com outros”. Em outras palavras, a vida com propósito transcede o eu, enquanto a felicidade é concentrada na satisfação do eu.
Segundo o pesquisador Roy Baumeister, “O que diferencia os seres humanos dos animais não é a busca da felicidade, isso ocorre na ordem natural do mundo animal, mas a busca do propósito é exclusivo aos seres humanos”.
Muito antes desses estudos, os judeus de alguma forma intuitiva entenderam isso. Felicidade é algo bom, mas propósito é ainda melhor.
A busca simplesmente pela felicidade é parte de uma cultura hedonista cujo objetivo maior é o de satisfazer o ego, buscar “um bom ano”, porém, é reconhecer a superioridade do propósito sobre a alegria momentânea.
A palavra “bom” tem um significado todo especial na Torá. A primeira vez que encontramos essa palavra ela é associada simultaneamente a cada dia da criação. Deus vê a sua obra e proclama “isso é bom”, mas quando Ele termina todo o seu trabalho, Ele observa e diz: “e eis que tudo é muito bom”.
O que isso quer dizer? De que forma o mundo era bom? Certamente não era em nenhum sentido moral o que estava sendo mencionado. Os comentaristas oferecem uma visão profunda, a palavra “bom” indica que cada parte da criação cumpriu o propósito de Deus, foi bom porque era o que Ele tinha destinado a ser.
Esse é o significado mais profundo da palavra “bom”, quando ele é aplicado, atingimos nosso objetivo maior. Nossa vida é boa quando vivemos à medida que fomos destinados a ser.
Podemos dizer que há muitas pessoas que levam uma vida boa apesar de passarem por muitas aflições e enfrentarem muitas dificuldades e experiências infelizes. Na verdade, grandes indivíduos que escolheram vidas de renúncia e deixaram em segundo plano o prazer momentâneo, deixaram também um legado de inspiração e realização que nunca poderia ter sido realizado se estivessem preocupados com sua satisfação pessoal apenas.
Shanah Tovah – “um bom ano”, na perspectiva espiritual é muito mais abençoado do que um simples “um ano feliz”.
Propósito leva à felicidade.
Shanah Tovah provavelmente não enfatiza a felicidade, no entanto é a maneira mais correta de alcançá-la. Outra poderosa ideia descoberta por psicólogos contemporâneos é que a felicidade na maioria das vezes é o subproduto de uma vida com propósito. É justamente quando não buscamos e estamos dispostos a buscar ideais mais nobres como objetivo de vida que a encontramos inesperadamente, aterrissando numa vida completa e repleta de felicidade verdadeira.
Você pode pensar que a aquisição cada vez mais de dinheiro faria as pessoas mais felizes, mas há milhões de pessoas dispostas a testemunhar suas experiências contrárias a isso. Mas se o acúmulo de dinheiro não satisfaz nossa sede de propósito, o que então? Os cientistas sociais chegaram a uma conclusão importante: Ter dinheiro não conduz automaticamente à felicidade, mas compartilhá-lo quase sempre alcança esse objetivo!
Propósito é o nosso objetivo final, em nossa busca de uma vida “boa". Então, você pode ter um ano repleto de significado e propósito e a felicidade inevitavelmente irá te seguir.
Shanah tovah a todos.
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quinta-feira, 24 de dezembro de 2015

Eu topo!


Eu topo.
- Maria (Lucas 1:38)

E aí que tem essa garotinha judia, provavelmente de 13 ou 14 anos, e de acordo com o evangelho de Lucas, um anjo de Deus aparece a ela e diz que ela encontrou graça diante de Deus. E que ela ficará grávida, e que o seu filho será o Filho do Altíssimo, e ele terá o trono do seu Pai Davi. E o reino dele não terá fim.
Maria, porém, tem algumas perguntinhas básicas a fazer:
Mas, como? Eu nem tive relações sexuais ainda.
O anjo responde:
O Espírito Santo virá sobre ti e a força do Altíssimo te encobrirá.
Esta menina Maria ouve tudo que o anjo tem a dizer e, em seguida, responde:
Eu sou serva do Senhor, que aconteça comigo conforme a tua palavra.
Ou como diríamos: Eu topo!
Bom, um pouco sobre de onde Maria vem. Ela é parte de uma tribo que diz ter sido escolhida pelo único Deus verdadeiro. Isto era incomum porque as outras tribos tinham muitos deuses. Um antigo escritor disse que era mais fácil encontrar deuses do que homens em Atenas. Deuses em todos lugares. Mas essa tribo crê que existe um único Deus acima de todos eles, um Deus tão grande, tão além, que eles foram proibidos de sequer fazer estátuas desse Deus.
Essa era uma ideia nova. Até um pouco estranha.
Mas essa tribo agarrou-se firmemente à convicção de que o seu Deus era puro Espírito, incapaz de ser remotamente representado por qualquer imagem que um ser humano poderia criar. Em uma reviravolta fascinante, eles acreditavam que ao invés de pessoas criando deuses à sua imagem, Deus criou as pessoas de acordo com a imagem dele próprio.
O que soa agradável. Mas essa tribo, em particular, havia sido conquistada de novo, e de novo, e de novo. Egípcios, babilônicos, assírios, selêucidas. Uma superpotência atrás de outra, cada uma delas teve a oportunidade de fazer da vida dessa tribo, miserável.
O que provavelmente deve ter levantado uma pergunta em Maria: Se o nosso Deus é o Deus acima de todos os outros, a nossa terra é a terra santa, e nós somos o seu povo, então como é que continuamos levando porrada?
A história repetia-se, opressão atrás de opressão, um império dominante seguido de outro. Até os dias de Maria, em que o império dominante se chamava Roma. Eles zombavam da tribo de Maria. Construíram as suas sedes militares mais altas do que o templo de Deus só de pirraça. Os romanos eram governados por uma série de imperadores chamados de César.
Acreditava-se que eles eram os filhos de Deus, e que Deus os enviou para trazer um reino universal de paz e prosperidade.
Eles tinham um slogan popular: Não há outro nome abaixo dos céus pelo qual podemos ser salvos, a não ser César.
Eles exigiam que todos reconhecessem que César era o senhor.
E assim, eles marcharam por todo mundo conhecido, conquistando terras, e exigindo que as pessoas reconhecessem César como senhor. Extraindo impostos esmagadores das pessoas para financiar exércitos maiores.
Caso você achasse ruim, tinha uma tecnologia chamada estaca de execução em que você seria executado em demonstração ao que acontece quando se resiste a César.
Era como eles faziam paz. Submeter-se, ou ser crucificado.
Era o mundo que Maria viveu. César no trono. O poderoso opressor no comando. A dominação implacável.
Você pode imaginar a vergonha? Porque é isso que o povo de Maria vivia. Cansado de ser pisado, cansado de ser chutado. Cansado de adorar um Deus que permite que pessoas que nem sequer reconhecem o Senhor verdadeiro vençam repetidas vezes.
Então, quando o anjo lhe dá esta notícia sobre um bebê que vai governar um reino, ela responde emocionada com um poema épico chamado Magnificat.
Ela diz que Deus tem estado consciente do estado humilde da sua serva. E que a misericórdia de Deus se estende àqueles que o temem. Ela diz que Deus tem derrubado governantes dos seus tronos (tem mesmo?).
Ela continua louvando a misericórdia do Senhor. Dizendo que Deus tem cumprido o que ele prometeu aos seus antepassados.
Para a audiência de Lucas, o contraste deve ter sido impressionante. Quem é essa adolescente, filha de Abrãao, para dizer que seu bebê vai durar mais que César?
Maria. César.
Uma adolescente. O governante do mundo.
Maria comemorando porque César vai cair.
Você pode ver as sementes revolucionárias da história de Jesus?
É politicamente subversivo, desafiante e louco. E olha que Jesus nem tinha nascido ainda.
Lucas está contando uma nova história. Uma história sobre um caminho além de César. Ele está oferecendo ao mundo a notícia revolucionária de um novo Senhor. Aquele que não vai mudar o mundo através da violência militar, mas de um amor sacrificial.
Qual é o melhor caminho? Poder opressivo ou amor?
Quem é o Senhor, César ou Jesus?
Essa é a pergunta que Lucas está fazendo, e ele começa isso tudo com essa garotinha que está pronta para colocar a mão no fogo por tudo que Deus tiver em mente.
É por isso que a história de Jesus parece perder o seu poder gritante quando nós a tiramos do contexto e colocamos a nossa sociedade mainstream como referencial. Ela diz respeito a um povo oprimido.
Ela é um lembrete atemporal de que a força coercitiva é tênue, na melhor das hipóteses. Os impérios são frágeis. Os políticos, os imperadores, os magnatas, os líderes, as grandes tropas, vem e vão como o vento. Porque todos eles, no fim das contas, fazem parte de um regime temporário.
Deus não se esqueceu. César está para cair.
O grito dos oprimidos foi ouvido e um bebê está prestes a nascer.
E tudo isso começa com uma adolescente que diz: Eu topo.
Essa criança está para nascer.
“Eis o grande Rei que nos libertará da tirania de Roma”?
Não. Lembre-se, essa história nada tem a ver com o estabelecimento de um regime temporário, mas de um reino eterno.
“Eis o cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo”.
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sábado, 12 de dezembro de 2015

Ele está à frente


“Mais uma vez, irou-se o Senhor contra Israel. E incitou Davi contra o povo, levando-o a fazer um censo de Israel e de Judá. ” 2 Samuel 24

“Satanás se levantou contra Israel e incitou Davi a fazer o censo. ‘’ 1 Crônicas 21

Qual é? Deus incitou Davi a fazer o censo, ou foi satanás?
A Bíblia diz uma coisa e depois diz outra completamente diferente.
O que fazemos com uma contradição dessas? Várias coisas.
Primeiro, um pouco sobre porque o censo pode ser um problema. Quando você faz um censo, é porque quer saber quantas pessoas tem, certo? E por que você quer saber isso? Porque isso lhe diz o quão grande você pode construir o seu exército. Diz com quem você pode e com quem você não pode guerrear. De maneira prática, você descobre o quão grande você pode construir seu império.
E por que isso pode ser um problema? Porque essas pessoas são chamadas para serem diferentes. Elas fazem parte de uma sociedade contrária às outras. Elas fazem parte de uma tribo que vive na aliança fiel com o seu Deus, o qual insiste em dizer que pode protege-las e guiá-las. Fazer o censo é uma falta de confiança.
Em segundo lugar, a parte da contradição.
2 Samuel foi escrito por volta de 600-500 a.C.
1 Crônicas foi escrito por volta de 400-250 a.C.
Assim, 2 Samuel foi escrito antes. Algumas centenas de anos antes.
A história contada antes diz que foi Deus que o incitou a fazer, a contada depois diz que foi satanás.
Por que isso é tão interessante?
Porque quanto mais cedo nós estamos na História, mais veremos as pessoas atribuindo todo tipo de raiva e violência aos seus deuses. Era assim que as pessoas concebiam os deuses. Eles acreditam que eles eram vingativos e era necessário oferecer sacrifícios para aplacar a ira. Você pode ler mais sobre isso aqui.
E como explicar esses relatos conflitantes?
Com o tempo, as pessoas evoluíram em suas concepções de Deus. Elas perceberam que um Deus bom não incitaria alguém a fazer algo ruim. Então deveria haver alguma outra força o incitando.
E aí é que a ideia de satanás entra.
Mas o que aconteceu no Jardim do Éden?
Nesse relato não se fala claramente de satanás, mas de uma cobra falante. Era simplesmente muito abstrato ainda.
Então qual é a primeira vez que a palavra “satanás” aparece na Bíblia?
Aqui em 1 Crônicas 21. E Crônicas não foi escrito até o exílio, bem mais tarde na história de Israel. A ideia de satanás não emerge até o fim do Antigo Testamento. Não surgiu até o exílio, época em que os hebreus haviam experimentado tamanha opressão e sofrimento, distantes de casa e em meio a uma grande alienação.
Eles se deram conta de que esse Deus dúbio era impossível.
Portanto, não há uma contradição, mas sim uma evolução. Uma sofisticação da concepção da natureza de Deus e do mal. Eles estão aprendendo sobre um novo tipo de Deus.
Não é exatamente isso que acontece em toda Bíblia?
Por exemplo, o livro de Levítico. É um livro revolucionário.
Você deve estar se perguntando: Como essa louca consegue colocar Levítico e revolucionário na mesma frase?
Pois é, acabei de fazer.
É um livro que começa com extensas (para ser honesta: chatas) instruções sobre como oferecer sacrifícios. A oferta de cereais, a de paz, a pelo pecado, e a pela culpa.
Para piorar, versos após versos do que fazer com a gordura, os lombos, o fígado, o sangue do animal.
Mas, calmaí. Primeiro, o livro começa com o Senhor (e este nome para Deus está interligado a um Deus que os livra de tudo em que eles estão subjugados) dizendo a Moisés para dizer ao povo:
Quando você traz uma oferta ao Senhor...
A palavra oferta aqui é a palavra hebraica Corban, que significa “se aproximar”.
Aproximar-se.
Os deuses naquela época eram tidos como distantes, individuais, exigentes, impessoais e em constante necessidade de serem apaziguados.
Mas, tipo, desse Deus você pode se aproximar?
As pessoas não falam de deuses como esse. Elas não concebem esse tipo de Deus.
Esse Deus é diferente. Você pode se relacionar com Ele. Você pode se aproximar dele.
E uma das ofertas é chamada oferta de paz. É uma oferta que você dá porque tem paz com Deus. E uma das instruções do capítulo 7 é que a carne oferecida deve ser comida, no mesmo dia.
Como se chama isso? Refeição.
Você chegará a esse Deus e então você terá uma refeição celebrando a paz que tem com Ele.
Em outras palavras, você pode saber onde está esse Deus. Mas e se você fez uma coisa de errado? Há uma oferta para isso. E se você se sente culpado? Há uma oferta para isso.
Sim, sim, claro, pessoa moderna. Talvez pareça um pouco primitivo. Foi há muito tempo.
Vamos direto ao mundo moderno: Por que eles simplesmente não ignoram todos esses sacrifícios?
Isso teria sido incrível. Não era o que Deus queria? Anunciar que o sacrifício final já havia sido feito, declarar que o templo será demolido. Olha só, já estamos mais à frente, né?
Mas como se muda uma consciência inteira formada por séculos e séculos? Como mudar todo um sistema? Você simplesmente destrói tudo de uma vez ou adentra na cultura deles, na língua deles, no convívio deles, na forma de pensar deles, e vai gradualmente introduzindo novas ideias, fazendo mudanças passo a passo?
Então, Levítico é um passo. Um passo revolucionário para uma concepção do divino.
E é isso que Paulo quis mostrar quando disse que a lei era um tutor. É necessário para uma temporada. Mas em seguida, você evolui. Você se adapta e ganha maturidade. Descobre que algumas coisas já não são mais necessárias.
E não é esse o caminho para a graça?
A graça é a maioridade do homem. É o nível mais alto que podemos chegar.
É o nível em que queremos estar.
É a evolução máxima. É onde Deus nos propõe estar desde a fundação do mundo.
É quando algumas coisas que eram tão importantes perdem a sua necessidade. É quando entendemos quem é o protagonista.
Mas para chegarmos a essa dispensação, precisamos nos desapegar de conceitos errados sobre Deus, conceitos retrógrados.
Nosso Deus está à frente. Nós já estamos à frente.
Não há mais tempo de nos deixarmos levar por deuses primitivos.
Graça é maturidade. E poucos desfrutam dela.

“Deus é um comediante a atuar para uma plateia assustada demais para rir.’’ (Voltaire)
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