sexta-feira, 27 de novembro de 2015

Luz - Trevas - Luz



Um homem descia de Jerusalém para Jericó, quando caiu nas mãos de assaltantes. Estes lhe tiraram as roupas, espancaram-no e se foram, deixando-o quase morto.
Aconteceu estar descendo pela mesma estrada um sacerdote. Quando viu o homem, passou pelo outro lado.
E assim também um levita, quando chegou ao lugar e o viu, passou pelo outro lado.
Mas um samaritano, estando de viagem, chegou onde se encontrava o homem e, quando o viu, teve piedade dele.
Aproximou-se, enfaixou-lhe as feridas, derramando nelas vinho e óleo. Depois colocou-o sobre o seu próprio animal, levou-o para uma hospedaria e cuidou dele.
No dia seguinte, deu dois denários ao hospedeiro e disse-lhe: ‘‘Cuide dele. Quando voltar lhe pagarei todas as despesas que você tiver’’.
(Lucas 10:30-35)

Bom, tem muita coisa aqui, vamos por partes. Eu escrevi recentemente um texto sobre essa parábola, você pode clicar aqui para ler. Nele fiz uma apanhagem geral sobre a natureza da pergunta feita pelo mestre da lei, sobre quem é o próximo. Neste, quero interpretar a parábola de forma mais profunda, com maior altitude, saindo do momento e indo de Gênesis a Apocalipse.
Tenho percebido a riqueza das parábolas de Jesus, de uma forma que jamais havia percebido antes. Elas vão da política até a vida após a morte em questão de segundos. Elas se movem de forma inconstante e até bagunçada. Esse é Jesus.
Você já parou para pensar que existe uma grande história sendo contada? Uma história que vai do jardim do Éden a um novo Céu e uma nova Terra. Ela caminha em direção a um “fim” certo. Ela começou na luz e vai terminar na luz.
E essa parábola conta a história da humanidade em poucos versos.

Um homem descia de Jerusalém a Jericó = Adão, você
Jerusalém = Éden
Jericó = Morte eterna
Assaltantes = O diabo e os seus anjos
Lhe tiraram as roupas = Despiram-no da sua imortalidade
Espancaram-no = Persuadiram-lhe ao pecado
Deixando-o quase morto = Vivendo no corpo, mas morto espiritualmente
Sacerdote e levita = Ministros da Antiga Aliança
Um bom samaritano = Jesus Cristo, desprezado e humilhado, o salvador inesperado
Enfaixou-lhe as feridas = Livrou-lhe das limitações do pecado
Óleo = A alegria da nova esperança
Vinho = Exortação para uma vida fervorosa no Espírito
Animal = O Cristo encarnado moído
Hospedaria = A igreja
No dia seguinte = Depois da ressurreição
Hospedeiro = Paulo
Dois denários = A plenitude da vida agora, e a promessa de uma vida futura

A história que está sendo contada é sobre o mundo sendo restaurado, renovado e recriado. É sobre o céu vindo à Terra de forma em que o céu e a Terra se tornem o mesmo lugar. É sobre Deus reafirmando a bondade da sua criação. Esse livro não é sobre evacuação, sobre fuga, não é sobre outro lugar. É sobre engajar esse mundo, porque é o único que temos, é o único que Deus se importa. É onde a história se desenrola.
E Deus é uma dança de amor e generosidade, que de maneira inesperada, nos alerta a respeito da nossa constante remissão. E Ele vai fazer o que for preciso, Ele vai correr em direção ao filho rebelde e dar uma festa, Ele vai deixar as 99 ovelhas em favor de uma, Ele vai deixar as 9 moedas em prol de uma, e quando achá-la, fará uma festa que vale mais que a moeda que Ele achou. Pois o que move Deus é a sua imagem, ela tem valor infinito. E Ele não deixará que a Sua imagem se perca.
E por que graça é tão simples assim? Porque graça é Deus.
São 5 versos, mas são milhares de anos. Anos de seca, anos de escuridão no meio do processo. Mas você já parou para pensar por que o poema da criação em Gênesis 1 tem como refrão “tarde e manhã”? O sábado judaico começa no pôr do sol da sexta-feira, passa pela noite, e acaba em pleno dia. Essa é a nossa jornada. Movendo-nos da escuridão para a luz. Movendo-nos do erro para a verdade. Movendo-nos da ignorância para a sabedoria. O autor está dizendo: “Acorde, venha para a luz! ” Porque essa jornada começou na luz e vai terminar na luz. 
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sexta-feira, 6 de novembro de 2015

A compaixão repugnante


“Então, Pul, rei da Assíria invadiu a terra...”
“Então Tiglate-Pileser veio e deportou as pessoas...”
“Salmanaser, rei da Assíria, marchou contra Samaria e a sitiou...”
- Trechos de 2 Reis 15 e 18
Invadidos.
Deportados.
Sitiados.
Invadir é quando você levanta um exército, marcha para outro país e o toma usando de força e violência.
Deportar é quando você captura habitantes do país que você invadiu e forçosamente os remove das suas casas, empregos, famílias, terras e, em seguida, os leva para longe.
Sitiar é quando você cerca a cidade com o seu exército e separa a cidade das suas fontes de água e comida, de forma que as pessoas fiquem famintas, com sede, sofrendo e morrendo até que elas desistam e se rendam.
Os assírios, com outras palavras, eram maus. Desagradáveis, brutais, violentos, opressivos e faziam a vida dos israelitas miserável. Ano após ano.
É justamente durante essa época da história que surge um homem chamado Jonas. Jonas era uma israelita. E, de acordo com essa história, o Deus de Jonas o manda à grande cidade de Nínive para pregar àquele povo.
E Nínive ficava na... Assíria.
Assíria? Nosso pior inimigo? Esses monstros que fizeram da vida do nosso povo um inferno tantas vezes? Você quer que eu vá para a cidade da besta e faça algo bom para eles? Cada uma.
Jonas não quer nem saber e se dirige ao porto mais próximo, salta em um navio, e vai para a direção exatamente oposta a Nínive.
Claro que ele faz isso.
Você faria também.
Bom, essa história é contada focando na desobediência de Jonas na primeira parte e na segunda parte acaba com a seguinte lição de moral: “Viu o que acontece quando não fazemos o que Deus manda?”
Mas como você imagina que os israelitas ao ouvirem isso reagiram? Eles odiavam os assírios. Será que eles enfatizaram a obediência ou aplaudiram Jonas?
Então, ele fica no barco, uma tempestade vem, e rola uma discussão na tripulação sobre a causa da tempestade, e eles decidem que Jonas é o problema e o jogam no mar. Ele é engolido por um peixe, e lá ele ora a Deus e o peixe o vomita, o vomita em Nínive. Os ninivitas são fantasticamente receptivos à mensagem e, em seguida, a história termina com Jonas tão deprimido que ele quer se matar.
Tem tanta coisa aqui. Por onde eu começo?
Ok, vamos começar pelo ponto que você supõe que uma história de israelitas deve começar categoricamente simples, fazendo a difereça entre o bom e o mau, o certo e errado.
Mas o israelita nessa história, aquele que supostamente segue a Deus, corre na direção oposta a Deus. A palavra usada é fugir. Jonas foge. Em seguida, ele acaba em um barco de marinheiros pagãos que oram.
E enquanto eles estão orando para a tempestade parar, Jonas não ora, ele dorme.
Os marinheiros passam por um processo até descobrir qual era o problema, sendo que Jonas sabia o tempo todo que ele era o problema.
E então, quando ele finalmente chega a Nínive depois de resistir a Deus várias vezes, esses monstros dos assírios estão tão abertos para a mensagem de Deus que o rei ordena que até os animais sejam cobertos de saco.
Esses sacos eram o que você usava enquanto clamava a Deus, ciente dos seus pecados, e pedindo misericórdia. O rei ordena que todos se arrependam e vistam os sacos, incluindo os animais!
Estamos acostumados com um mundo onde vemos as coisas de forma dualista. As pessoas boas e as más, nós e eles.
Mas nessa história, as categorias são todas misturadas e bagunçadas. O israelita, supostamente justo, é, na verdade, preguiçoso e arrogante. Enquanto os pagãos perversos são completamente receptivos à mensagem de Deus para eles.
E então, depois de Jonas ver tudo que aconteceu com os ninivitas, a mudança milagrosa no coração deles, ele está tão chateado que quer morrer.
E ele diz a Deus: Eu sabia que tu eras um Deus misericordioso e compassivo, muito paciente e cheio de amor...
E então, ele acrescenta: Agora, Senhor, tira-me a vida, pois me é melhor morrer do que viver.
Mas que história bizarra.
Uma história em que nenhum personagem faz o que você espera que eles façam. O que levanta alguns questionamentos como: Por que essa história permanece? O que faz as pessoas contarem essa história, acharem relevante e preservá-la?
Em primeiro lugar, essa história é sobre um homem, mas trata-se de uma nação. Jonas não quer ir a Nínive porque os assírios tinham tratado os israelitas horrivelmente. Essa história está fazendo a pergunta:
Será que Jonas pode perdoar os assírios?
Que é: Será que Israel pode perdoar a Assíria?
Bom, a conclusão é que o seu inimigo pode ser mais aberto ao amor de Deus do que você.
E Jonas está com raiva no final. Com raiva da misericórdia, do perdão e do amor de Deus.
Porque, convenhamos, nesse caso, é bem irritante.
Mas isso nos leva a um tema maior. Israel foi chamado para ser luz do mundo, para mostrar o amor redentor de Deus ao mundo (Gn 12).
E eles estavam há anos-luz disso.
Há uma pergunta então que permanece na história de Jonas:
Você pode perdoar o seu pior inimigo e ser um canal através do qual o amor de Deus fluirá em benefício dele?
E isso é mais sobrenatural do que o grande peixe engolir Jonas, ele permanecer lá por 3 dias e ser vomitado em seu destino. Esse também não é o ponto.
É uma pergunta para Jonas, mas é uma pergunta para Israel.
É por isso que o livro não acaba com uma conclusão, ou com um julgamento, ou com uma explicação do que Jonas faz a seguir.
O livro acaba com uma pergunta que Deus tem para Jonas:
Não deveria eu ter compaixão dessa grande cidade?
É uma pergunta para Jonas, mas também para toda audiência. E o autor da pergunta sabe que eles querem responder:
Não.
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