domingo, 27 de setembro de 2015

Deus não está ofendido


Essa mulher tem uma relação de dependência com a sua plantação. Ela planta aquela semente, com a esperança de que ela cresça e dê muito fruto, pois ela depende da comida que essa planta produz para sobreviver. Ela e o seu marido. E, então, ela começa a escutar as histórias dele também. De como ele depende da caça. De como, muitas vezes, ele passa dias fora de casa, caçando ou tentando. Às vezes, ele consegue a sua caça, e volta feliz. Mas, outras vezes, ele passa dias à fio em busca dela, e não consegue capturá-la.
Que curioso! Parece que essa relação de dependência que ela tem para com sua plantação também se dá de uma forma que parece um pouco aleatória. Existe essa grande bola de fogo nos céus, e essa planta precisa ser exposta a essa bola de fogo. Mas nem tanto, nem tão pouco, para que ela não morra. E a água que cai do céu? Precisa regar a plantação, para que ela continue frutificando. Mas nem tanto, para que ela não seja levada violentamente. Então, nasce uma criança. Essa nova vida em seus braços que depende dela. Mas quando ela vai ter a segunda, ela se dá conta de que está segurando uma criança sem vida.
Mas, por que isso? Existe essa força maior e todos parecem estar sujeitos a ela. A força que controla a bola do fogo, os animais, a água, a vida. O que fazer para que essas forças fiquem ao nosso favor? Já sei! Vamos nomeá-las, serão os nossos deuses. E sabe o que faremos? De tudo que produzirmos, daremos parte a eles, como uma oferta de paz, para que eles fiquem do nosso lado e não nos deixe perecer. Ofereceremos sacrifícios aos deuses. Os adoraremos e eles saberão que estamos agradecidos. Nesse ano colhemos 3 vezes mais que o ano passado, precisamos sacrificar mais. Já fazem 6 meses que não chove? Claramente, o deus que manda a chuva está ofendido conosco, precisamos oferecer mais, sacrificar mais. De alguma forma, esses deuses estão muito irados conosco.
Em certas civilizações, quando nada mais restava para se oferecer, eles cortavam o próprio corpo, para que através daquele sangue, aquele deus visse o quão gratos eles estavam e o quanto dependiam do seu favor. As plantações, os animais acabaram? Já me autoflagelei o suficiente? Oferecerei o meu primogênito como sacrifício. Você nunca saberá como satisfazer esses deuses, nunca saberá como lidar com eles.
Mas, espere aí. Em uma certa tribo, tudo começa diferente. Começa com um homem chamado Abrão, nascido em uma civilização suméria. E esse Deus estranho diz a Abrão que ele saia da casa dos seus pais, e O siga. Não, espere. Que absurdo! Esse Deus se comunicou, falou? Revelou sua vontade? Isso nunca aconteceu antes! E... por que Ele quer que ele abandone a casa dos seus pais? Bom, o pai de Abrão supostamente o ensinou a como agradar essas forças, ensinou que quando ele estiver passando por uma certa enfermidade, ele deve oferecer sacrifício àquele deus em específico, e quando a terra estiver estéril, Abrão deveria oferecer sacrifício àquele outro deus em específico. Esse Deus diz a Abrão que ele saia daquele ciclo, e o convida para algo totalmente novo. Então, pela primeira vez, Deus intervêm na história da humanidade. Esse Deus estranho, esse Deus que se comunica com a criação. Agora, isso é revolucionário. Ninguém jamais havia proposto isso.
Abrão sai da sua terra, e esse Deus o manda olhar para as estrelas dos céus, para demonstrar o quão numerosa será a sua descendência. Mas, veja, na civilização suméria, de onde Abrão saiu, as pessoas na verdade adoravam as estrelas, adoravam os astros. Eram deuses. Mas esse Deus usa outros deuses como simples acessórios para demonstrar o seu expansivo plano.
Abraão tem um filho. E Deus o pede em sacrifício, o filho que ele amava. A palavra amor aparece pela primeira vez em toda bíblia. Mas essa voz vem do céu e diz: “Não faça isso!!” E esse Deus dá um cordeiro em troca para sacrificar. Veja como a religião é retrógrada! Alguém chamaria os direitos humanos. Você não entende o quanto essa história é revolucionária. Abraão não está chocado, ele pergunta como sacrificar o filho e não por que. Esse Deus está dizendo a Abraão: “Você está acostumado com deuses ofendidos que pedem o que você tem de mais valioso em troca de favores. PARE!!”
Essa história deveria terminar com Abraão tentando agradar a Deus por meio de um holocausto, dando o seu próprio filho. Mas, em vez disso, acaba com um Deus que provêm. Não é sobre o que Abraão faz para Deus, mas é sobre o que Deus faz para Abraão.
Milênios se passam e o sistema está corrompido de novo. Saduceus e fariseus usando de violência para impor a suposta vontade de Deus através do medo. Esse curioso rabino surge, Jesus Cristo. Renovando as coisas mais uma vez. Revolucionando as coisas mais uma vez. Talvez, para você, um sermão revolucionário seja baseado em 5 pontos que começam com a mesma letra. Mas nessa cultura, essa voz clama “Misericórdia quero e não sacrifícios! ”, dando vida às palavras de um profeta chamado Oséias, e isso era absolutamente revolucionário. Ele olha para o templo que demorou 46 anos para ser reconstruído e diz “Destruam, e eu o reconstruirei em 3 dias”. Mas ele não estava falando daquele templo, e sim de si mesmo. Me matem, e eu me reconstruirei. Esse homem então é levado à cruz, para uma morte sórdida. E não há sequer uma violência em seus atos. A resistência de Jesus sem violência em um sistema baseado em violência questiona a natureza do altar. Será que o seu deus é tão mal-humorado assim?
Esse Deus chegou ao ápice do absurdo e do ridículo. Talvez você não entenda o que é amor. Mas eu vou te dizer que ele é a exata medida de um Deus que se flagelou para mostrar a sua criação o quanto Ele queria que ela parasse de se flagelar. Não é assim que se ganha favor. Veja as minhas marcas, que o sacrifício seja eu!
Mas, veja. Os primeiros cristãos entenderam tudo isso que eu estou escrevendo agora. O autor de Hebreus diz que é impossível que o sangue de touros e bodes remova pecados. Dia após dia, ano após ano, sacrifício após sacrifício. Mais sangue, mais holocaustos. E ele diz que não é como se aquilo fizesse paz com Deus, não é como se aquilo gerasse algum efeito positivo, aqueles sacrifícios eram apenas uma forma de aliviar a consciência humana. Vemos isso em várias partes da bíblia, inclusive no Antigo Testamento. Em Salmos 50, Deus diz que o mundo é dele, e tudo que nele existe, todos os animais da Terra e tudo que é potencialmente um sacrifício. E então, no verso 12, Ele te choca com o seguinte raciocínio: “Se eu tivesse fome, precisaria dizer a você? Tudo é meu! ”
Se você está barganhando com Deus para te dar algo, você está barganhando com o Deus errado.
Se o seu coração palpita, se os seus olhos estão abertos para o sofrimento do mundo moderno, você terá que se perguntar ocasionalmente: Será que vivemos em uma cultura tão retrógrada como as de antes? Será que temos os mesmos deuses raivosos e exigentes, e só o chamamos de nomes diferentes? Porque não se engane, se você diz que não acredita em Deus, isso é já um tipo particular de deus. Vivemos na cultura mais iluminada e progressista da história ou será que somos igualmente retrógrados e primitivos?  
Veja só, será que você vai para a igreja no domingo para passar os outros 6 dias aliviado da culpa? Para deixar Deus satisfeito? Será que você está tentando fazer trocas de favores ainda que inconscientemente? Será que você está tão cheio de culpa que não pode sequer ver beleza na vida? Será que você está correndo, trabalhando feito louco, sem tempo nem para respirar? Bom, esses são os mesmos velhos deuses com nomes diferentes.
Se há algum ritual verdadeiramente puro e bíblico é aquele em que celebramos a paz que temos com Deus através de Jesus Cristo, o qual se ofereceu como sacrifício máximo e se revelou na consumação do tempo exato. E se há um sacrifício válido, como disse Paulo, é o vivo. Porque, veja, o seu sacrifício tentando fazer paz com Deus e com o mundo é morto e inválido. Sacrifício normalmente fala de morte! E Paulo está sendo subversivo aqui. Como assim sacrifício vivo? O que quer dizer esse sacrifício vivo? Ele não é uma troca, nem uma forma de conseguir favor de Deus, porque isso você já tem! Não é uma barganha, nem mesmo uma forma de ser perdoado. O sacrifício vivo é quando você dá a Deus louvor e glória por não ter que fazer trocas, por não ter que alcançar o Seu favor, por não ter que barganhar com Ele, nem precisar de justificativas próprias para ser perdoado. Louvor e glória ao Deus com o qual fomos reconciliados, estamos em paz! Sacrifícios vivos e não mortos ao Deus que intervêm na história da humanidade para nos ensinar o caminho da paz, o qual não foi traçado por nós mesmos, mas por aquele que se ofereceu como sacrifício máximo.
Eu te desafio a fazer como eu fiz. Quando, cheia de culpa e condenação, eu me achegava a Deus para contar todos os meus erros, resolvi fazer um acordo. Eu disse que da próxima vez que eu viesse até Ele, iria perguntar quais pecados eu tinha confessado da última vez. Assim o fiz. E imediatamente algo pulou em meu coração dizendo “Eu não me lembro”.
Que você possa viver inserido na natureza desse Deus de amor, desse Deus que não está ofendido e nem com raiva. Mas está sempre apto a nos limpar e nos fazer novos todos os dias.
Graça e paz!
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terça-feira, 15 de setembro de 2015

Mistério?


Quantas vezes eu achei que Deus estava se escondendo?
Esse é o problema conosco. Achamos que as coisas com Deus são complicadas demais, que Ele está jogando um jogo, e se você chegar até o fim, talvez Ele revele alguma coisa. As dúvidas se amontoam, os questionamentos se tornam enormes empecilhos, e ficamos cansados e sobrecarregados. Porque, com toda sinceridade, estamos com preguiça de jogar o “jogo de Deus”.
Esse é o meu ponto. O jogo não é de Deus. É seu.
Criamos um processo porque apreciamos o mistério, e achamos que Deus aprecia também. Mas, se a bíblia diz que Ele tentou falar de várias formas e várias maneiras, e nos últimos dias nos tem falado através do filho, que por sinal, é a expressão exata de quem Ele é, eu só posso concluir que Ele quer ser entendido. É, eu sei que isso é assustador. Deus quer ser plenamente compreendido.
Não há guerra, não há jogos, não há desafios.
Porque Ele não se dá em partes, nem muito menos, se esconde para ser achado. E não se engane, Ele quer responder todas as suas dúvidas, porque Ele simplesmente ama o fato de você querer conhecê-Lo.
Sim, talvez o que Deus fará seja ainda um mistério. Mas o coração por trás da mão que faz, certamente não é.
Deus se colocou em uma posição de completa vulnerabilidade, porque Ele revelou o seu coração. Você jamais poderá perscrutar completamente o coração de um humano, mas você poderá perfeitamente perscrutar o coração de Deus. Porque o mistério não é uma qualidade divina. É uma característica humana.
E para Deus, não há beleza no mistério.
Deus é paciente, Deus é bondoso. Não inveja, não se vangloria, não se orgulha. Não maltrata, não procura seus interesses, não se ira facilmente, não guarda rancor. Deus não se alegra com a injustiça, mas se alegra com a verdade. Deus tudo sofre, tudo crê, tudo espera e tudo suporta. Deus nunca falha.
Já pude provar de Deus em cada um desses atributos. E tudo que eu já vi, me impulsiona a crer em um Criador maravilhoso para tudo que eu ainda não vi. Por isso, questione a natureza de Deus e vá até o fim. Porque quando você conhecê-lo, não terá porque questionar os Seus motivos. A fé se torna extremamente desgastante quando não conhecemos a natureza invariavelmente boa e indubitavelmente não egoísta daquele que nos pede.
Porque Deus é confiante o bastante para fazer da dúvida respondida, um fundamento para a fé.
Para uma fé burra, a dúvida é um genocídio. Para uma fé sábia, a dúvida é uma gestação.


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quinta-feira, 3 de setembro de 2015

ACORDE A MINHA ALMA!


- Oh, pensei que fosse um homem! – Diz Susana – Será que é seguro? Vou ficar nervosa ao me encontrar com um leão.
- Você ficará, querida. – Responde a Sra. Castor – E não se engane, se existe alguém que pode aparecer diante de Aslan sem bater os joelhos, ou é mais corajoso que os demais, ou mais tolo.
- Então não é seguro? – Perguntou Lucy.
- Seguro? – Diz o Sr. Castor – Você não ouviu o que a Sra. Castor disse? Quem falou sobre segurança? É claro que ele não é seguro. Mas ele é bom! Ele é o rei, isto lhe digo!
(As Crônicas de Nárnia – O Leão, A Feiticeira e O Guarda-Roupa)

Quando nos perguntamos por que se importar, quando nos sentimos fúteis, pequenos e ridículos. Quando nos sentimos mal compreendidos e descaracterizados, é nesses momentos que descobrimos a verdade sobre ser corajoso: Você nem sempre vai se sentir bem sendo. E se, como Aristóteles postulou, a única maneira de evitar críticas é não dizer nada, não fazer nada e não ser nada, então isso certamente é uma opção. Não seja nada, não faça nada, não diga nada, assista mais televisão, compre mais coisas.
Esse não é mais um texto sobre sair da área de conforto. Mas é um clamor por uma geração que não compreendeu o Jesus dos evangelhos. Uma geração doente que considera a abstenção do perigo a maior virtude, a virtude que faz herdar o Reino.  
Acumulamos frustrações e traumas. Não queremos nos expor. Não queremos mais desbravar. Preferimos o conhecido, ignorando o novo. Analisamos e ponderamos. Consideramos estatísticas e probabilidades. Bem-vindo ao mundo adulto, onde o que realmente importa é o quão seguro você pode estar.
Davi reconheceu isso. Eu não sou capaz de contar nos dedos quantas vezes em salmos ele diz frases como: “Acorde, minha alma! ”, “Bendiga ao Senhor, minha alma! “, “Acordem, harpa e lira! “, “Vou despertar a alvorada! “
Versos como esses mudaram a minha vida e a minha forma de ver o mundo. Hoje posso dizer que os meus pés e mãos querem tocar o novo, minha alma quer descobrir todas as coisas que Deus está fazendo no mundo agora, meu coração recriado quer perigo. Meu coração quer dar tudo a quem me deu tudo. Minha alma anseia por dar a Deus aqui na Terra, algo que não posso dar no céu. O suor, as lágrimas, o sangue. O privilégio de correr riscos.
Quando falamos sobre sair da zona conforto, desconsideramos o real significado disso. Dizemos apenas que essa é a melhor forma de fazer as coisas acontecerem. Mas esquecemos que sair da zona de conforto é sair da zona de segurança. É considerar como lucro a perda de tudo que se pode perder. É perceber que o que é de muito valor para a maioria, é embaraço para você. No perigo do novo, o que é abalável, cai. E o que é inabalável, se fortalece ainda mais.
Sentimentos como esse encheram o coração de heróis no passado. Como Moisés e o povo hebreu, ao entrar por uma passarela no meio do mar. Como Davi, ao desafiar um gigante com um estilingue. Como Oséias, ao descer aos lugares mais sujos e perder a sua reputação a procura de uma prostituta para comprar, que aliás era sua esposa. Como Abraão que não recusou dar ao Senhor sua última esperança do cumprimento da promessa. Como os discípulos de Jesus na igreja primitiva que não se cansavam de rodar o mundo como andarilhos gritando a verdade, sabendo que morreriam a qualquer momento de forma cruel. 
É isso mesmo. Corte minha cabeça e queime o meu corpo, minha alma sabe em quem tem crido. Meu coração não pode se dar ao luxo da abstenção ao perigo.
Não temos mais heróis como antes porque descobrimos um mundo bastante seguro. Um mundo comum e muito chato. Um mundo onde temos muitos direitos. E em nome desses direitos, continuamos enchendo túmulos sem nomes. Ninguém vai lembrar que estivemos aqui.
Querem te dizer o que pensar e o que fazer. Querem te dizer no que você pode ou não acreditar. Mas eu estou cansada de pessoas tentando me dizer o que fazer, o que dizer e no que crer. Ditadores de regras não têm nome, só fazem parte de um número. E eu não posso ficar calada quando um fogo arde dentro de mim.
Várias pessoas têm dúvidas sobre a utilidade das genealogias na bíblia. E eu vou te dizer algo agora sobre isso.
No antigo Oriente Médio, elas eram usadas para mostrar como algumas pessoas eram mais proeminentes. Grandes líderes e guerreiros apareciam em genealogias e estufavam o peito. Mas em uma tribo estranha, a história começa com um homem chamado Abrão. Bem, Abrão é um zé-ninguém. E essa longa lista de pessoas? Ninguéns. Essas listas são chatas para nós, mas para essa tribo em específico, eram inspiradoras. Deus usa ninguéns. E todos esses ninguéns foram na verdade parte de algo maior que eles mesmos.
NÃO IMPORTA. O seu valor não é por merecimento, é por nascimento.
Prove ao mundo que Deus usa ninguéns. Viva o perigo de uma nova vida. Pise em alto mar na confiança de que existe algo sólido sendo formado abaixo dos seus pés.
Eu não tenho medo de crer no que acredito. Quero um túmulo com nome e um nome a ser lembrado. Meu coração quer correr riscos. Ele quer ir além das fronteiras dos direitos e da civilização. Ele quer compreender que há um amor melhor que a vida.


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