- Oh, pensei que
fosse um homem! – Diz Susana – Será que é seguro? Vou ficar nervosa ao me
encontrar com um leão.
- Você ficará,
querida. – Responde a Sra. Castor – E não se engane, se existe alguém que pode
aparecer diante de Aslan sem bater os joelhos, ou é mais corajoso que os
demais, ou mais tolo.
- Então não é
seguro? – Perguntou Lucy.
- Seguro? – Diz o
Sr. Castor – Você não ouviu o que a Sra. Castor disse? Quem falou sobre
segurança? É claro que ele não é seguro. Mas ele é bom! Ele é o rei, isto lhe
digo!
(As Crônicas de
Nárnia – O Leão, A Feiticeira e O Guarda-Roupa)
Quando nos perguntamos por que se importar, quando nos sentimos
fúteis, pequenos e ridículos. Quando nos sentimos mal compreendidos e
descaracterizados, é nesses momentos que descobrimos a verdade sobre ser
corajoso: Você nem sempre vai se sentir bem sendo. E se, como Aristóteles
postulou, a única maneira de evitar críticas é não dizer nada, não fazer nada e
não ser nada, então isso certamente é uma opção. Não seja nada, não faça nada,
não diga nada, assista mais televisão, compre mais coisas.
Esse não é mais um texto sobre sair da área de conforto. Mas é um
clamor por uma geração que não compreendeu o Jesus dos evangelhos. Uma geração
doente que considera a abstenção do perigo a maior virtude, a virtude que faz
herdar o Reino.
Acumulamos frustrações e traumas. Não queremos nos expor. Não
queremos mais desbravar. Preferimos o conhecido, ignorando o novo. Analisamos e
ponderamos. Consideramos estatísticas e probabilidades. Bem-vindo ao mundo
adulto, onde o que realmente importa é o quão seguro você pode estar.
Davi reconheceu isso. Eu não sou capaz de contar nos dedos quantas
vezes em salmos ele diz frases como: “Acorde, minha alma! ”, “Bendiga ao
Senhor, minha alma! “, “Acordem, harpa e lira! “, “Vou despertar a alvorada! “
Versos como esses mudaram a minha vida e a minha forma de ver o
mundo. Hoje posso dizer que os meus pés e mãos querem tocar o novo, minha alma
quer descobrir todas as coisas que Deus está fazendo no mundo agora, meu coração recriado quer perigo.
Meu coração quer dar tudo a quem me deu tudo. Minha alma anseia por dar a Deus
aqui na Terra, algo que não posso dar no céu. O suor, as lágrimas, o sangue. O
privilégio de correr riscos.
Quando falamos sobre sair da zona conforto, desconsideramos o real
significado disso. Dizemos apenas que essa é a melhor forma de fazer as coisas
acontecerem. Mas esquecemos que sair da zona de conforto é sair da zona de
segurança. É considerar como lucro a perda de tudo que se pode perder. É
perceber que o que é de muito valor para a maioria, é embaraço para você. No
perigo do novo, o que é abalável, cai. E o que é inabalável, se fortalece ainda
mais.
Sentimentos como esse encheram o coração de heróis no passado.
Como Moisés e o povo hebreu, ao entrar por uma passarela no meio do mar. Como
Davi, ao desafiar um gigante com um estilingue. Como Oséias, ao descer aos
lugares mais sujos e perder a sua reputação a procura de uma prostituta para
comprar, que aliás era sua esposa. Como Abraão que não recusou dar ao Senhor
sua última esperança do cumprimento da promessa. Como os discípulos de Jesus na
igreja primitiva que não se cansavam de rodar o mundo como andarilhos gritando
a verdade, sabendo que morreriam a qualquer momento de forma cruel.
É isso mesmo. Corte minha cabeça e queime o meu corpo, minha alma
sabe em quem tem crido. Meu coração não pode se dar ao luxo da abstenção ao
perigo.
Não temos mais heróis como antes porque descobrimos um mundo
bastante seguro. Um mundo comum e muito chato. Um mundo onde temos muitos
direitos. E em nome desses direitos, continuamos enchendo túmulos sem nomes.
Ninguém vai lembrar que estivemos aqui.
Querem te dizer o que pensar e o que fazer. Querem te dizer no que
você pode ou não acreditar. Mas eu estou cansada de pessoas tentando me dizer o
que fazer, o que dizer e no que crer. Ditadores de regras não têm nome, só
fazem parte de um número. E eu não posso ficar calada quando um fogo arde
dentro de mim.
Várias pessoas têm dúvidas sobre a utilidade das genealogias na
bíblia. E eu vou te dizer algo agora sobre isso.
No antigo Oriente Médio, elas eram usadas para mostrar como
algumas pessoas eram mais proeminentes. Grandes líderes e guerreiros apareciam
em genealogias e estufavam o peito. Mas em uma tribo estranha, a história
começa com um homem chamado Abrão. Bem, Abrão é um zé-ninguém. E essa longa
lista de pessoas? Ninguéns. Essas listas são chatas para nós, mas para essa
tribo em específico, eram inspiradoras. Deus
usa ninguéns. E todos esses ninguéns foram na verdade parte de algo maior
que eles mesmos.
NÃO IMPORTA. O seu valor não é por
merecimento, é por nascimento.
Prove ao mundo que Deus usa ninguéns. Viva o perigo de uma nova
vida. Pise em alto mar na confiança de que existe algo sólido sendo formado
abaixo dos seus pés.
Eu não tenho medo de crer no que acredito. Quero um túmulo com
nome e um nome a ser lembrado. Meu coração quer correr riscos. Ele quer ir além
das fronteiras dos direitos e da civilização. Ele
quer compreender que há um amor melhor que a vida.
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