quinta-feira, 3 de setembro de 2015

ACORDE A MINHA ALMA!


- Oh, pensei que fosse um homem! – Diz Susana – Será que é seguro? Vou ficar nervosa ao me encontrar com um leão.
- Você ficará, querida. – Responde a Sra. Castor – E não se engane, se existe alguém que pode aparecer diante de Aslan sem bater os joelhos, ou é mais corajoso que os demais, ou mais tolo.
- Então não é seguro? – Perguntou Lucy.
- Seguro? – Diz o Sr. Castor – Você não ouviu o que a Sra. Castor disse? Quem falou sobre segurança? É claro que ele não é seguro. Mas ele é bom! Ele é o rei, isto lhe digo!
(As Crônicas de Nárnia – O Leão, A Feiticeira e O Guarda-Roupa)

Quando nos perguntamos por que se importar, quando nos sentimos fúteis, pequenos e ridículos. Quando nos sentimos mal compreendidos e descaracterizados, é nesses momentos que descobrimos a verdade sobre ser corajoso: Você nem sempre vai se sentir bem sendo. E se, como Aristóteles postulou, a única maneira de evitar críticas é não dizer nada, não fazer nada e não ser nada, então isso certamente é uma opção. Não seja nada, não faça nada, não diga nada, assista mais televisão, compre mais coisas.
Esse não é mais um texto sobre sair da área de conforto. Mas é um clamor por uma geração que não compreendeu o Jesus dos evangelhos. Uma geração doente que considera a abstenção do perigo a maior virtude, a virtude que faz herdar o Reino.  
Acumulamos frustrações e traumas. Não queremos nos expor. Não queremos mais desbravar. Preferimos o conhecido, ignorando o novo. Analisamos e ponderamos. Consideramos estatísticas e probabilidades. Bem-vindo ao mundo adulto, onde o que realmente importa é o quão seguro você pode estar.
Davi reconheceu isso. Eu não sou capaz de contar nos dedos quantas vezes em salmos ele diz frases como: “Acorde, minha alma! ”, “Bendiga ao Senhor, minha alma! “, “Acordem, harpa e lira! “, “Vou despertar a alvorada! “
Versos como esses mudaram a minha vida e a minha forma de ver o mundo. Hoje posso dizer que os meus pés e mãos querem tocar o novo, minha alma quer descobrir todas as coisas que Deus está fazendo no mundo agora, meu coração recriado quer perigo. Meu coração quer dar tudo a quem me deu tudo. Minha alma anseia por dar a Deus aqui na Terra, algo que não posso dar no céu. O suor, as lágrimas, o sangue. O privilégio de correr riscos.
Quando falamos sobre sair da zona conforto, desconsideramos o real significado disso. Dizemos apenas que essa é a melhor forma de fazer as coisas acontecerem. Mas esquecemos que sair da zona de conforto é sair da zona de segurança. É considerar como lucro a perda de tudo que se pode perder. É perceber que o que é de muito valor para a maioria, é embaraço para você. No perigo do novo, o que é abalável, cai. E o que é inabalável, se fortalece ainda mais.
Sentimentos como esse encheram o coração de heróis no passado. Como Moisés e o povo hebreu, ao entrar por uma passarela no meio do mar. Como Davi, ao desafiar um gigante com um estilingue. Como Oséias, ao descer aos lugares mais sujos e perder a sua reputação a procura de uma prostituta para comprar, que aliás era sua esposa. Como Abraão que não recusou dar ao Senhor sua última esperança do cumprimento da promessa. Como os discípulos de Jesus na igreja primitiva que não se cansavam de rodar o mundo como andarilhos gritando a verdade, sabendo que morreriam a qualquer momento de forma cruel. 
É isso mesmo. Corte minha cabeça e queime o meu corpo, minha alma sabe em quem tem crido. Meu coração não pode se dar ao luxo da abstenção ao perigo.
Não temos mais heróis como antes porque descobrimos um mundo bastante seguro. Um mundo comum e muito chato. Um mundo onde temos muitos direitos. E em nome desses direitos, continuamos enchendo túmulos sem nomes. Ninguém vai lembrar que estivemos aqui.
Querem te dizer o que pensar e o que fazer. Querem te dizer no que você pode ou não acreditar. Mas eu estou cansada de pessoas tentando me dizer o que fazer, o que dizer e no que crer. Ditadores de regras não têm nome, só fazem parte de um número. E eu não posso ficar calada quando um fogo arde dentro de mim.
Várias pessoas têm dúvidas sobre a utilidade das genealogias na bíblia. E eu vou te dizer algo agora sobre isso.
No antigo Oriente Médio, elas eram usadas para mostrar como algumas pessoas eram mais proeminentes. Grandes líderes e guerreiros apareciam em genealogias e estufavam o peito. Mas em uma tribo estranha, a história começa com um homem chamado Abrão. Bem, Abrão é um zé-ninguém. E essa longa lista de pessoas? Ninguéns. Essas listas são chatas para nós, mas para essa tribo em específico, eram inspiradoras. Deus usa ninguéns. E todos esses ninguéns foram na verdade parte de algo maior que eles mesmos.
NÃO IMPORTA. O seu valor não é por merecimento, é por nascimento.
Prove ao mundo que Deus usa ninguéns. Viva o perigo de uma nova vida. Pise em alto mar na confiança de que existe algo sólido sendo formado abaixo dos seus pés.
Eu não tenho medo de crer no que acredito. Quero um túmulo com nome e um nome a ser lembrado. Meu coração quer correr riscos. Ele quer ir além das fronteiras dos direitos e da civilização. Ele quer compreender que há um amor melhor que a vida.


0 comentários:

Postar um comentário

© Harmonia Poliforme, AllRightsReserved.

Designed by ScreenWritersArena