sexta-feira, 23 de setembro de 2016

Construindo para quem?



Herodes gostava de construir coisas que desafiavam a natureza. Em Cesaréia, ele construiu através do Mediterrâneo. Construiu banhos romanos, quentes, frios e mornos. Seu palácio tinha uma varanda que se estendia para o mar para que os visitantes pudessem visitar o palácio diretamente de um navio.

Cerca de 40 a.C., Herodes, governador da Galiléia, foi nomeado rei da Judéia pelos romanos. Eles queriam a cultura romana. Eles queriam as rotas comerciais protegidas. Mas Herodes não dispunha de um porto marítimo, o que era necessário para facilitar a entrada de soldados romanos, assim como o comércio. E então ele construiu Cesaréia.
Ele construiu um anfiteatro de 4 mil lugares, com água corrente, e um sistema de esgoto perfeito. A cidade rivalizava com Roma em sua beleza e modernidade. O porto era o maior do mundo.
A cidade ocupou o palácio do governador regional, Pôncio Pilatos, na época de Jesus.
Por causa do porto, muitas das viagens missionárias de Paulo começaram em Cesaréia. Quando Paulo viajou de volta para a Palestina, ele chegou a Cesaréia, onde foi julgado e posteriormente mandado para César. Assim, Cesaréia foi de muitas maneiras o início e fim da carreira de Paulo.
O seu porto foi, assim, uma parte importante do envio do evangelho ao mundo gentio.
Em 64 d.C., houve um motim em Cesaréia, no qual os gentios mataram muitos judeus inocentes. Isto levou à revolta dos judeus, o que levou à destruição de Jerusalém e ao fim do sistema de sacrifício no templo. Exércitos romanos destruíram Cesaréia para remover a memória da glória da Judéia sob Herodes.
Herodes construiu para Herodes. E, portanto, sua construção não poderia durar. Tudo o que ele construiu está agora em ruínas. E ele é hoje lembrado principalmente pelo abate de bebês.
Jesus jamais ergueu um edifício. Ainda assim dividiu a história e é o homem mais famoso do mundo.
Joana, a mulher do administrador da casa de Herodes Antipas, parecia não se importar com os benefícios de seu status social e toda a glória de ser elite e começou a seguir por todo canto um certo homem que dizia ser o Cristo, juntamente com os seus discípulos, pescadores incultos. De certa forma, aquilo era mais valioso e excitante.
Um pouco mais ao leste, o glorioso rei Davi, quando ainda jovem e sequer tinha força para sustentar uma armadura, tomou uma funda e matou Golias. E Davi será lembrado para sempre, porque ele fez o que fez para que o mundo soubesse que o Senhor é Deus.
Paulo teria feito um perfeito lobista. Seu título invejado de cidadão romano juntamente com toda sua eloquência e influência judaica poderia lhe gerar oportunas trocas de favores. Nós lhe damos mais poder, riqueza e influência, e em troca você será uma peça em nosso tabuleiro. Paulo, entretanto, parece achar que a fraqueza é melhor que a força. Quão ingênuo isso soa?
Tudo parece se resumir a uma simples pergunta: Para quem estamos construindo?
Olhamos para trás na história e o que vemos? Revoluções e contrarrevoluções. Impérios caindo e se erguendo. Shakespeare falou sobre homens que vão e vêm como a lua. Eu vi um austríaco louco dizer que o reich alemão duraria mil anos e um palhaço italiano afirmar que o calendário reiniciaria a partir da sua própria ascensão ao poder. Eu vejo os Estados Unidos mais rico e com mais poder militar que o mundo inteiro junto, de forma que os americanos ganhariam de César ou de Alexandre facilmente em conquistas.
Hitler e Mussolini são lembrados apenas como uma infâmia. Stalin é um nome proibido no país que ele dominou por três décadas. Os Estados Unidos são assolados constantemente pelo medo de suas fontes de riqueza começarem a minar.
Tudo em uma geração.
E tudo levado pelo vento
E através dos milênios, parece ter restado um único nome.

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segunda-feira, 18 de julho de 2016

O novo jugo


"Pareceu bem ao Espírito Santo e a nós..." (Atos 15:28)

A bíblia pode ser um livro difícil. Digo isso porque milênios depois, ela continua sendo alvo de inúmeros debates. Isso porque a bíblia é um livro comunitário. A própria ideia de ler a bíblia sozinho, interpretar sozinho e chegar a conclusões sozinho é muito nova. Não errada, apenas nova.
As escrituras sempre foram lidas e interpretadas em grupo, desde antes de Cristo. A bíblia é um livro aberto. Quando Deus disse que os judeus deveriam guardar o sábado e descansar nesse dia, é óbvio que inúmeras questões se levantariam a partir disso. O que é descanso? Quando Deus disse que deveríamos amar o nosso próximo, mais perguntas surgiram. Quem é o próximo?
Bom, é aí que começa uma enxurrada de opiniões e interpretações. Os rabinos eram chamados para liderar tudo isso. Eles divergiam, debatiam e tinham seguidores. Um certo rabino poderia interpretar, por exemplo, que o significado de descanso era um, outro rabino, via de outra forma. Um dizia sua opinião sobre o divórcio, o outro discordava. Isso era bem comum.
Porque Deus falou, e o resto é comentário.
Quando alguém seguia um certo rabino, ou aceitava as suas convicções teológicas, dizia-se que essa pessoa aceitava o seu jugo. Era uma forma de dizer: “Eu acredito que essa é a visão mais próxima do que Deus disse nas Escrituras”. Essa lista de proibições, permissões e interpretações da Torá constituíam-se como o jugo. Houve até um rabino que disse que o seu jugo era suave.
Isso é bem interessante porque essas convicções eram passadas de rabino para rabino. De forma que era bem raro um deles pregar algo completamente novo. Mas quando isso eventualmente acontecia, era necessário que ele passasse pela aprovação de dois mestres influentes, estes lhe impunham as mãos e o transmitiam autoridade. Jesus foi um deles. Ele passou pelo batismo de João Batista, e ouviu o “manda ver, filhão” de Deus do céu enquanto isso. Por isso, falava como quem tinha autoridade.
Quando você falava algo a respeito da Torá que tinha consistência, o líder espiritual olhava para você e dizia: “Parabéns, você cumpriu a Torá”. Caso contrário, ele diria que você estava a abolindo. Mas se você estivesse em linha com o texto, dizia-se que lhe foram dadas as chaves do Reino dos céus. Foi isso que Jesus deu aos discípulos quando os deu poder de ligar e desligar coisas nos céus e na terra. Ligar era proibir, desligar era permitir (Flávio Josefo sabe explicar isso melhor que eu).
O ponto é: Era isso que a igreja primitiva estava fazendo. O cristianismo começou a se espalhar e agora eles precisavam definir parâmetros. Eram gentios, judeus e diferentes culturas ligadas a um único homem: Jesus Cristo. Eles acreditavam que Ele era o messias prometido.
Pareceu bem ao Espírito Santo e a nós.
Eu amo essa frase. Eu imagino algum discípulo se levantando e dizendo: “Espere aí, Jesus nos deu autoridade para resolver isso! ” Era algo novo surgindo dentro deles, eu não sei se eles sabiam explicar completamente, mas havia algo acontecendo. Eles se sentaram em conjunto e após horas e horas de discussão, chegam diante do povo e dão o parecer deles e do Espírito Santo, como se este estivesse sentado conversando com eles no meio do debate.
Alguns podem se assustar com a linguagem, posso imaginar que sim. Os apóstolos, aqueles que andaram com o Cristo, estão decidindo algo importantíssimo na história da igreja e o máximo que podem dizer é que “pareceu bem”? É o que eu mais amo nisso tudo. Eles não alegam que tinham uma resposta absoluta de Deus. Dizem que sentiram uma direção do Espírito Santo, mas não levam isso às últimas instâncias. Eles são sensíveis. Eles reconhecem a importância daquele momento. Eles assumem responsabilidade ao mesmo tempo que alegam uma forte orientação do Espírito de Deus. Eles são humildes. Afinal, eles estavam descobrindo esse novo jugo. E ao que parece, era ele de fato suave.
Precisamos mais disso. O que seria de nós se usássemos mais essa expressão? O que seria de nós se em cada decisão disséssemos: “Pareceu bem ao Espírito Santo e a nós”?
A verdade é que a bíblia é um livro extremamente atual. E o Espírito de Deus não parou de dar orientações a respeito desse livro. É por isso que você nunca vai esgotar uma passagem. Sempre vai haver algo novo. Deus falou ontem, está falando hoje. E enquanto Ele fala, precisamos estar prontos para pintar o quadro. A bíblia começa com Deus separando as trevas da luz, e o resto da bíblia é sobre ele continuando a separar as trevas da luz.
Muitas vezes lutaremos com o texto. Leremos e releremos sem conseguir decifrar muito bem. Os rabinos tinham uma analogia impressionante sobre isso. Eles usavam a passagem de Jacó lutando com o anjo, em Gênesis 32. Ele luta com o anjo, se cansa, machuca a coxa, sente dor e sai mancando.
Pois quando luta-se com o texto, sai-se mancando.
Alguns não saem mancando porque não lutaram com texto. Mas os que estão mancando tiveram uma experiência com o Deus vivo.
Porque Deus falou. E cada frase é um diamante de milhares de faces.

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domingo, 5 de junho de 2016

Um denominador comum


“E conhecereis a verdade e a verdade vos libertará”

Eu lembro que escrevi essa frase em meu caderno e eu olhava para ela todos os dias. Existia algo que me parecia certo nessa frase, mas eu não sabia dizer o porquê. Como é que a verdade liberta? Eu conseguia entender como a verdade te torna mais experiente, educado... mas, livre? O que a liberdade tem com isso?
Então, continuei confundindo essa frase com toda uma bagagem religiosa de histórias de anjos e de vida após a morte ou qualquer coisa que faça as pessoas se sentirem melhores. Mas olhe para mim. Eu sou uma pessoa boa. E sem precisar de todas essas superstições e dogmas.
Essa última parte foi extremamente importante para que eu chegasse até aqui: A ideia de que havia boas pessoas e más pessoas, e que eu era uma das boas pessoas. É óbvio que eu sabia que às vezes pessoas boas fazem coisas ruins e vice-versa. Mas eu estava convencida de que existe um certo nível de mal que apenas uma pessoa má poderia cometer, que existia uma linha divisória que só alguém fundamentalmente diferente de mim poderia cruzar. Quando eu ouvia sobre acontecimentos hediondos, eu estava claramente ouvindo sobre atos cometidos por pessoas que estavam do outro lado dessa linha.
A medida em que me permiti aprofundar no cristianismo, percebi que ele se tratava de mostrar ao mundo uma verdade objetiva. Essa era a sua proposta fundamental.
E como eu escrevi neste post, ninguém acorda dizendo: “hoje eu vou fazer uma coisa terrível e estou bem com isso”. Manipulamos, reajustamos, redefinimos. A única maneira de o mal atuar é se travestindo de algo que nem é tão ruim assim.
Lembro que me deparei com algumas fotos de Auschwitz e comecei a olhar cada detalhe. Acho que era um retiro de trabalhadores. Nas fotos eu podia vê-los sorrindo e relaxando em espreguiçadeiras. Eram oficiais, chefes de campo de concentração, supervisores da câmara de gás.
Enquanto eu olhava para aquela frase no meu caderno, eu teria pensado em mim mesma como uma pessoa fundamentalmente diferente de todas elas. Até que avancei ao ponto de perceber que no fim das contas, não havia diferença ontológica alguma. A diferença não passa de histórias que contamos a nós mesmos sobre o que está acontecendo em segundo plano. Depende do número de mentiras que nos permitimos acreditar.
A diferença, portanto, entre pessoas que aceitariam trabalhar em Auschwitz e as que não aceitariam não é de forma alguma uma questão de diferença entre pessoas inerentemente boas ou más. É apenas uma questão de quem poderia ver a verdade em meio a uma enorme pressão para se comprar uma mentira.
Sem Deus e sem a verdade objetiva somos marinheiros sem uma bússola tentando confiar no instinto para navegar em águas turbulentas. Pode funcionar por algum tempo, mas isso nos deixa vulneráveis às legiões que tentam nos orientar para fora do curso. Se não sabemos a verdade sobre coisas inerentes a nossa existência, ou para onde estamos indo, nos encontramos em um terreno movediço. E quanto mais nos afastamos da verdade, mais nos tornamos escravos de uma falsa sensação de controle.
Eu me encontrei totalmente confrontada pelo cristianismo, pois diferente de qualquer outra religião, ele nos colocou no mesmo patamar. No livro de Romanos, Paulo diz que Deus encerrou todos debaixo da desobediência para com todos usar de misericórdia. Não é incrível como isso define toda minha jornada até aqui?
Isso é difícil de aceitar. Principalmente quando vivemos uma boa vida moral. Mas somos todos humanos, e isso pode implicar na premissa de que estamos todos com problemas. Sim, você pode ser tão problemático quanto o seu vizinho drogado e nunca será tão honesto quanto ele.
Deus me encerrou debaixo da desobediência juntamente com os funcionários de Auschwitz para sobre nós despejar misericórdia igualmente. Para que não haja mais méritos próprios. Para que o único caminho fosse Jesus. Precisamos de Jesus igualmente, porque fomos igualmente encerrados. Esse é um dos motivos pelos quais a graça tem tudo a ver com quem dá e nada a ver com quem recebe.
Você pode criar um bom discurso em frente a um tribunal com o objetivo de ser inocentado e escapar do julgamento em sociedade. Mas Deus, como aquele Pai na parábola do filho pródigo, vai apenas ignorar seu discurso sobre dignidade (pois ele é falho e ilógico, afinal. Quem é filho por dignidade?) e interrompe-lo com um beijo e uma bela de uma festa.
Eu lembro de quando comecei a me convencer intelectualmente da narrativa de um design inteligente, mas eu simplesmente não podia me deixar envolver emocionalmente. Lembro de olhar o mundo e ver Deus em volta e através dele, e então parar e só ver uma fila de supermercado. É trágico.
Mas todas essas memórias me trazem exatamente até aqui. As emoções que se alastraram dentro de mim fizeram efeito no fim das contas. E eu entendo agora, para a minha satisfação e alívio, que tudo isso não era apenas uma reação química no meu cérebro, sua fonte final era a minha alma eterna, que se sentia perturbada e deslocada. Não poderia ser diferente, ela não estava em casa.
Se você está procurando honestamente a verdade, é certo que você irá encontrá-la. E quando encontrá-la, abandonando toda falsa sensação de controle que desde sempre cultivou, se dará conta de que pela primeira vez na sua vida, você está livre.

“Pois isto é bom e agradável diante de Deus, nosso Salvador, o qual deseja que todos os homens sejam salvos e cheguem ao pleno conhecimento da verdade”. (1 Tm 2:3-4)
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quinta-feira, 7 de abril de 2016

Salvo? Ser salvo de quê?


Recentemente eu conversei com uma pessoa e ela estava questionando a minha fé, uma frase que ela disse imediatamente me chocou: “Salvo? Ser salvo de quê?” Bom, isso é mais comum do que pensamos. Sobretudo em países desenvolvidos onde o relativismo tem aumentado drasticamente. Quando estamos em nossa vida comum, quando não temos com o que nos preocupar, quando está tudo sobre controle, há uma sensação lá no fundo de nós que ainda questiona: Ser salvo de quê?
(Esse questionamento é automaticamente extinguido quando você conversa com um casal de pais que teve a sua filha abusada sexualmente anos e anos por alguém próximo, ou quando vemos alguém inocente com uma bala na testa, ou algo do tipo. Mas eu vou tentar explicar didaticamente.)
Vamos começar do começo. A bíblia explica a história do mal, ela provavelmente é o único livro que se dedica quase que completamente em responder em responder essas questões.
Temos que em um lugar perfeito, onde Deus era adorado por anjos dia após dia, todos vivendo em harmonia e em completa paz, um anjo se rebela, acusando Deus de ser tirano e quer elevar o seu trono acima do de Deus. O mistério da iniquidade. Como pode em um lugar perfeito alguém se rebelar? Mas olha, como pode em um lugar perfeito alguém não poder se rebelar?
Tempo não é algo que existia ainda, mas eu vou dizer que foram vários anos de guerra no céu. Até que Lúcifer foi expulso e com ele levou um terço dos anjos. A bíblia diz que nele havia uma multidão de pecados, não um, não dois, uma multidão.
Lúcifer seduzia anjos que viviam em plenitude ao lado de Deus a achar que Deus era tirano e que exigia obediência cega dos seus subordinados. Mas, espera, se Deus exigia obediência cega como eles iriam se rebelar?
Estava criado o mal. Não exatamente criado, pois ele não é uma substância por assim dizer, mas sim a ausência do bem. Assim como o frio é a ausência do calor.
Deus dá início então a uma nova dimensão que contêm tempo e espaço. E em procura de alguém, diferente dos anjos, para ter um relacionamento de intimidade, cria o homem. Imbuído de livre-arbítrio e de TODA a natureza de Deus, o homem viveria agora em completa harmonia com o seu Criador. O seu propósito não era só adoração, era um relacionamento vivo onde o homem era o ser mais privilegiado de todas as eternidades passadas: Ele tem acesso ao coração de Deus, não apenas a glória, não apenas ao poder, não apenas ao seu sorriso distante, mas ao seu próprio coração. Deus se tornou sondável.
De todo um universo de possibilidades, Deus cria então uma faixa de gaza, um árvore, onde o homem poderia ser tentado por satanás, o antigo Lúcifer. Pois ele não é tirano.
O mistério da iniquidade. Satanás seduz o homem de forma que ele pense que ao comer o fruto da árvore, ele se torne como Deus. Sim, satanás seduziu o homem para comer o fruto da árvore do mal e em troca ele teria o que ele sempre teve: a imagem a semelhança do Criador.
ADIVINHA O QUE ELE FAZ????
Deixe eu te dizer uma coisa: Ninguém entendeu nada. Os anjos não entenderam nada, os seres criados por Deus não entenderam nada. E, sinceramente, eu não entendi nada.
Estavam abertos os portais do sofrimento, e o homem não mais poderia viver no lugar perfeito. Imagine o primeiro espinho ao entrar em contato com a pele, imagine o primeiro sangue a ser derramado.
Mas não, Deus não se conformou. Ele não iria perder o homem como perdeu Lúcifer. Ao homem ele tinha dado a sua glória, ao homem ele tinha dado a sua imagem, ao homem ele tinha dado os seus olhos, a sua dedicação exclusiva, ao homem ele tinha dado o seu coração.
Mas o homem precisava entender isso. O homem tinha que perceber o que ele perdeu, para saber então que ele poderia ganhar de volta, porque Deus estava dando uma nova chance. Deus estava mandando um cruz. Para Adão? Para mim? Para você? Não, para si mesmo.
Há uma longa história entre a queda e a cruz. Mas Deus começou a contá-la de um jeito simples: Não é o conhecimento do bem e do mal que você quer? Ele cria algo chamado lei. A lei era para provar ao homem que ele precisa do seu Criador para ser completo de novo. A lei veio para provar que não podemos conquistar o Éden de novo sem o favor imerecido de Deus.
O homem precisava conhecer a morte através do pecado, para posteriormente conhecer a vida através de Cristo. Então Deus se faz refém do seu próprio amor.
O homem precisou de milhares de anos, sacrifício após sacrifício, morte após morte, sangue, guerras, para entender que havia um resquício de glória nele que clamava pelo Éden.
O homem queria ser como Deus e pecou. Então Deus se fez como homem e o salvou.
Não há metáforas que expliquem esse amor.
Mas existe uma palavra que chega perto: graça. Graça que eu e você não podemos entender.
Ele está nos restaurando o Éden! Através da lei? Através de regras? Através de boas obras? Não, através de graça. Se pudéssemos alcançar os céus com nossas próprias asas, que tipo de céu seria esse? Um céu equivalente aos meus esforços não seria nem de longe um céu.
Por isso, não há competição entre graça e lei. Somos salvos pela lei? De modo algum! É impossível ser salvo por ela, pois ela nos condena. E a graça nos salva do pecado que a lei nos mostra. Só existe graça porque existe lei. Afinal, se não há lei, seremos salvos de quê?
Essa é uma história que ainda está sendo contada. E no final, Deus acabará com o mal e nos restaurará perfeitamente à posição original.
Mas há um plano de salvação que está em andamento agora. E eu quero ser parte dele. Eu quero saber o que Deus está fazendo ao redor do mundo nesse exato momento. Deus está redimindo a sua criação e eu quero que ele conte comigo.
Porque, no fim das contas, não é incrível como Ele olhou para esse mundo e fez dele a menina dos seus olhos?
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domingo, 20 de março de 2016

A ira do Senhor


Qual é a sua primeira reação ao ouvir a palavra “ira”?
Medo?
Será que realmente entendemos o que essa palavra significa? Será que não criamos uma teologia baseada em opressão?
Por muito tempo eu tive medo da ira de Deus. Na verdade, é normal se sentir assim quando você nasce em uma sociedade altamente religiosa. E quando falo “religiosa”, não estou delimitando meu discurso. Uma sociedade que está aderindo o ateísmo pode ser muito religiosa. Não é o que está acontecendo?
Bom, o cristianismo tem uma anomalia: Apesar de ser considerado uma religião, ele se torna cada vez mais puro a medida em que se afasta dela. Ou seja, o cristianismo de uma forma bem escancarada diz que os nossos deuses são muito retrógrados, não são muito diferentes do deus-sol, e que na verdade as prostitutas e os publicanos entrarão adiante dos religiosos no reino dos céus. Chocante, não é? Se é para nós, imagine quando Jesus disse isso no primeiro século.
Mas de que forma a religião se relaciona com a nossa concepção da ira de Deus? Simples, o principal discurso da religião é a ira. Ira como uma ameaça. Ira como fogo que nos consumirá se a nossa performance não for muito boa. Deus está agindo em graça, misericórdia e amor, mas Ele é uma bomba relógio, e vai explodir em ira a qualquer momento.
Isaías diz, no capítulo 2 de seu livro, que Deus haverá de trocar as lanças por foices. Ele está falando de juízo. Está para chegar o dia em que o Senhor trocará as nossas armas letais por instrumentos agrícolas. Arar, semear, colher, cultivar a terra como uma referência a uma era futura em que sangue não mais precisará ser derramado, não mais discursos de ódio, não mais guerra. Essa é a ira do Senhor.
Muitas pessoas quando têm um encontro o verdadeiro amor de Deus, ficam tão extasiadas que chegam a não conseguir mais ver um Deus irado. Isso aconteceu comigo. Como pode um Deus tão maravilhoso se irar?
É aí que a história começa. Porque nós vemos amor e ira como opostos. Porque nós temos uma visão errada de amor. Ou de ira. Ou dos dois.
Ira não é o contrário de misericórdia e de graça. Ou você não lembra que nEle não há sombra de variação?
A bíblia enfatiza que as misericórdias do Senhor não têm fim. NÃO. TÊM. FIM.
Não, não, nós entendemos tudo errado. Estamos entendendo tudo errado desde o começo de tudo.
O amor desperta a verdadeira ira. Não existe amor sem ira. E Deus colocou em nós a capacidade de amarmos a ponto de nos revoltarmos.
Podemos até dizer que não podemos conceber um Deus irado, mas sim, nós podemos. Na verdade, é só nisso que pensamos.
Sempre que nós ouvimos relatos de mulheres sendo violentadas.
Sempre que algum líder político cala a oposição com tortura e opressão.
Sempre que vemos o lucro acima da vida humana.
Como Deus reage quando vê uma criança sendo obrigada a se prostituir? Como reage ao ver um povo faminto enquanto os comandantes militares se apropriam de toda comida do país?
COM IRA!
Que tipo de Deus não ficaria irado com a política que rouba as economias de milhares de pessoas?
Como diz Isaías, Deus irá trocar nossas lanças por foices. Deus agirá decisivamente em favor daqueles que alguma vez foram esmagados pelo sistema. Que sofreram abuso, foram explorados, esquecidos ou maltratados.
Deus irá reestabelecer shalom.
Deus irá convergir em Cristo todas as coisas.
Deus dirá não para a injustiça.
Deus tirará os órfãos da rua.
Deus dirá “nunca mais” à opressão que pesa sobre o fraco e desprotegido.
Deus declarará a extinção de armas.
Deus vai se irar por amor a sua criação. Deus vai, eu sei que Ele vai. E se os seus olhos estão abertos para o sofrimento do mundo, para todas as coisas que estão erradas aqui, se você por vezes acorda com um sentimento de fugacidade, uma vontade de voltar para casa, você, assim como eu, mal pode esperar pelo dia em que Ele virá.
Justiça e misericórdia dão as mãos e se beijam, caminham juntas para a era que há de vir. Uma era complexa, participativa e livre de toda morte, destruição e desespero.
Deus trocará as nossas lanças por foices. Ele dirá “basta” para toda e qualquer ameaça à paz que Ele deseja para a criação.
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sábado, 27 de fevereiro de 2016

Corredor da morte


Há algumas semanas, eu assisti a um documentário sobre uma prisão de segurança máxima nos EUA. Eles entrevistaram um cara de vinte e poucos anos que esteve no corredor da morte, mas que a sua pena foi alterada para prisão perpétua. O entrevistador pediu para que ele falasse um pouco sobre como era estar lá. Ele respondeu: “Você não tem ideia. Quando você está no corredor da morte, é como se você já estivesse morto. Você tenta fazer alguma coisa para se distrair, mas é como se ouvisse um relógio em sua cabeça. Você sabe que a data da sua extinção já foi determinada e que é só uma questão de dias, horas, minutos. Você pode ler um livro, assistir TV, mas para quê? Você vai morrer em breve e isso não faz sentido mesmo no fim das contas.” Ele ficou emocionado ao acrescentar: “Eu tive minha vida de volta quando saí do corredor da morte.”
Eu parei em frente à tela do notebook e subconscientemente reagi a sua descrição em um espírito de camaradagem. Era como se eu sentisse que aquele homem e eu compartilhávamos uma rara experiência.
Até que eu me tornei ciente da minha reação. De onde veio isso? Como é que uma menina de 18 anos, de classe média e que nunca sequer esteve em uma prisão tem a menor ideia do que um ex-prisioneiro do corredor da morte estava falando?
E então eu percebi. Porque anos atrás, quando eu comecei a me questionar sobre Deus, quando teimei em deixar lentamente para trás os conceitos de uma vida após essa vida, eu vivi em um corredor da morte.
O ateu Bertrand Russel certa vez apontou que todos os nossos esforços ao fim da vida deverão ser multiplicados por zero.
A data da nossa extinção estava chegando, estava mais perto a cada segundo. A única diferença entre um prisioneiro de corredor da morte e qualquer outra pessoa era que o prisioneiro sabia a data. Por que jogar cartas? Por que assistir TV? Por que ler um livro? Claro, você pode ter algum prazer momentâneo e ganhar algum conhecimento, mas é tudo fugaz e tudo vai desaparecer, juntamente com você, em seu extermínio iminente. O tempo estava passando. Éramos todos homens mortos andando.
Parecia errado. Profundamente errado. Desconfortavelmente errado.
Lentamente me forcei a deixar esse sentimento para trás ainda que eu precisasse entrar no modo “caixinha do nada” no meu cérebro às vezes, e comecei a redescobrir o cristianismo.
Bom, essa é outra história.
Mas depois de tantos questionamentos, depois de tantos “Que diabos é essa passagem aqui???” Depois de uma fase de lacunas, eu pude ver a verdade do cristianismo. Eu pude entender porque cada civilização na história da humanidade curiosamente se baseava no divino. Eu pude entender por que esse livro preto e por que esse homem falando que era Deus.
Eu não entendia a princípio, mas a vida parecia mais completa de uma certa maneira. Pode parecer óbvio, mas eu não conseguia dizer o que era. Sempre foi tão abstrato.
Até que depois de algum tempo, eu estava passando os canais e vi uma reportagem que me fez pensar mais uma vez sobre a brevidade da vida (o mundo seria um lugar muito melhor se todos nós parássemos para refletir sobre isso um pouco, não é à toa que o salmista nos ensina a contar os nossos dias para alçarmos um coração sábio). E então eu percebi o que era essa nova coisa surgindo dentro de mim. Vida. Eu não estava mais com medo. Qualquer rastro de pensamento sombrio havia ido embora. Eu não tinha mais medo de morrer, embora eu quisesse viver cada dia que tenho direito e cumprir o meu propósito. Mas isso não mais me atormentava.
Eu vi como se nós nascêssemos em um mundo que está cercado de todos os lados. Um mundo fechado. Um lugar claustrofóbico.
Jesus veio e nos ensinou a pular. Pular essa cerca.
Eu posso ver o outro lado. Pastos verdejantes.
Naquele momento eu percebi que eu tinha passado minha vida falsamente condenada a um corredor da morte. E bem... agora eu estava livre.

“E nosso testemunho é esse: que Deus nos concedeu a vida eterna, e essa vida está em seu Filho!” (1 João 5:11)
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segunda-feira, 8 de fevereiro de 2016

O pai da mentira


Quando eu comecei a explorar de verdade o cristianismo pela primeira vez, uma das coisas que eu nunca entendi era por que diabos o diabo era chamado de “pai da mentira”. Parecia uma espécie de definição aleatória. Quer dizer, a mentira é ruim, mas há coisas piores, certo? Por que não pai do ódio, da raiva, da crueldade? Francamente, o pai da mentira não parecia tão ameaçador para mim.
E então eu comecei a notar algo.
Graças aos escritos de C. S. Lewis, comecei a perceber que todos os seres humanos ao longo da história tiveram a noção de que nós deveríamos estar fazendo o que é certo e bom. Quase ninguém diz: “Hoje eu acordei com vontade de fazer algo ruim e mal! ” Nem mesmo Hitler pensava dessa forma. Hitler alegava estar fazendo algo de bom para o seu país.
Todos nós temos uma necessidade de nos sentirmos “pessoas boas”. Ainda assim temos uma tendência muito forte de fazer coisas que não parecem tão boas. E foi quando eu notei como essas duas forças se chocam que percebi de onde o diabo tira o seu apelido. Com a nossa repulsa inata pela simples ideia de fazer algo mal, existe apenas uma forma de o mal florescer: através de mentiras.
Estupradores dizem que a mulher queria ou merecia. Ladrões dizem a si mesmos que eles precisam daquela mercadoria e que aquela empresa não vai nem notar de qualquer maneira. Quando uma criança desejada nasce, ela é tratada como um ser precioso. Mas quando é indesejada, é tratada como apenas um feto.
Quando esse entendimento me veio, comecei a ver exemplos em todos os lugares, incluindo em mim mesma. Não é preguiça, é porque eu não tenho tempo. Eu só estou criticando para te alertar. Eu não estou sendo cruel, eu estou respondendo às pessoas como elas merecem.
Não demorou muito para que eu percebesse que era completamente através de mentiras que eu fazia escolhas más. Eu nunca disse: “Essa escolha que eu estou tomando é má e errada, mas eu não me importo”. Eu sempre tive uma boa história para contar sobre o porquê de eu estar fazendo aquilo.
Mentiras.
Quando paro para pensar sobre quais justificativas usava para dizer que o bem e o mal eram uma questão de opinião, e que não há verdade, percebo o quanto o relativismo moral é perigoso. Vejo agora que o bom está diretamente ligado a dizer a verdade, enquanto o mal está diretamente ligado a dizer a mentira.
Você não pode buscar a verdade se não acredita que ela existe. A partir de experiências pessoais comecei a entender que a coisa mais prejudicial que uma pessoa pode dizer a si mesma é que não há verdade objetiva. Porque o mal está sempre à espreita, esperando para oferecer uma boa e arrumada história para que você diga o porquê de as coisas ruins não são serem tão ruins assim.
E quando a definição de bem e mal não se amarram a uma definição de verdade absoluta, que vai além das nossas opiniões humanas, torna-se fácil deslizar para um caminho perigoso.
Cheguei a achar que os ateus eram mais livres que pessoas que acreditavam em Deus. Afinal, não teriam mais regras e regulamentos bizarros para se atolar. Agora, entendo que essas “regras” são na verdade um conjunto de ferramentas, uma chave para abrir as algemas do pecado, uma bússola que nos ajuda a navegar pelas águas turbulentas que todos nós nos encontramos.
Conhecer a Deus é conhecer a verdade, e sem verdade é impossível ser livre.

*Nota: A partir de agora, começarei a postar um pouco mais sobre razão, fé e apologética. Fiquem atentos! 
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