sexta-feira, 28 de agosto de 2015

Pedras e promíscuos


Uma mulher é pega em meio a uma relação sexual ilícita, um adultério, a “polícia religiosa” traz essa mulher para Jesus e, procurando motivos para acusá-lo, dizem que ela deve ser apedrejada de acordo com a lei. Jesus, no entanto, se abaixa e começa a escrever no chão. Os fariseus insistem. E então, ele se levanta e diz:
Qualquer um de vocês que esteja sem pecado, que atire a primeira pedra.

Ele escreve um pouco mais no chão, todos começam a vazar, e Jesus fica a sós com a mulher (provavelmente até os discípulos se retiraram). Ele pergunta se alguém a havia julgado, ela diz que não, e ele diz que nem ele vai. Vá e não peques mais.
Fim da história?
Então, o que Jesus estava escrevendo no chão?
Isso só mais para frente. Bom, essa história sobre a mulher e a multidão que quer apedrejá-la é encontrada no Evangelho de João, capítulo 8. Se você voltar ao capítulo anterior, o 7, você vai ver que era o tempo do Festival dos Tabernáculos.
A Festa dos Tabernáculos era uma das sete principais festas do calendário hebraico. Havia festas de primavera e de outono, organizadas em torno dos ciclos agrícolas de plantio e colheita.
As Festas de Primavera aconteciam nessa ordem: Páscoa, Pães Ázimos, Primícias, e então, Pentecostes.
E as Festas de Outono: Trombetas, Expiação, e Tabernáculos.
A Festa dos Tabernáculos era a última festa do ano, e última das festas de outono. A última festa do outono, era a festa antes do inverno. Quando esperavam que as chuvas e as águas viriam, para que na primavera eles tivessem grandes colheitas e algo para comemorar e render graças durante as festas de primavera. Milhares de peregrinos iam a Jerusalém, para oito dias de festa, permanecendo em abrigos improvisados, que representava o quanto o seu Deus se importou com o seu povo muitos anos antes, quando eles estavam no deserto. Durante oito dias houve festa, sacrifícios, música e rituais orientados em torno de pedir a Deus pelas chuvas de inverno, para que eles tivessem comida quando a primavera chegasse. Os líderes religiosos iriam ensinar durante oito dias inteiros sobre a importância da água, água e chuva, água e sede, água como metáfora para uma busca espiritual. Muito ensino sobre água. Até o último dia quando o sumo sacerdote despejaria uma jarra de água e de vinho sobre o altar, enquanto a multidão gritava:
Hosana! Hosana!
Hosana significa “Deus, nos salve”, como se fosse, “Deus, por favor, traga-nos as chuvas de inverno para nos salvar da seca e da fome. " (Mais tarde essa palavra teria uma conotação política, um pedido de socorro quanto aos romanos que invadiram as suas terras)
Com isso em mente, observe o capítulo 7.
“No último e mais importante dia do Festival, Jesus se levantou e disse em voz alta...”
Por que ele está falando em voz alta? Porque era o último dia e a multidão estava cantando, gritando, fazendo barulho e ele quer ser ouvido. O que ele diz?
“Se alguém tem sede, venha a mim e beba. ”
Boooom! Ele escolhe esse momento. O momento onde as pessoas estavam focadas em suas necessidades físicas e muito reais quanto à água, e os chama para sua sede espiritual, sede essa que ele insiste em dizer que pode fazer algo a respeito. É por isso que no início do capítulo, ele diz para os seus irmãos subirem à festa, e ele diz que não é o tempo certo para ele e fica para trás. Ele está esperando o último dia para fazer o seu discurso com o ritual do sacerdote derramando o vinho e a água, e a multidão cantando sobre a necessidade de um salvador como pano de fundo? Brilhante. Sim, brilhante.
Milhares de pessoas festejando e bebendo, hospedados em abrigos improvisados no lado da colina em Jerusalém. Basicamente, um camping religioso. Com muito vinho envolvido. E o que pode acontecer quando as pessoas bebem e acampam juntas?
Isso mesmo. Você pode ver como duas pessoas podem acabar em tendas erradas se dando conta de escolhas erradas que fizeram na noite passada? Não é surpreendente, então, que na manhã seguinte os fariseus e mestres da lei arrastam uma mulher para os pátios do templo que foi pega com um homem com o qual ela não era casada?
Eles arrastam essa mulher a Jesus porque querem prendê-lo. Eles não acreditam nele, o rejeitam e querem expô-lo como uma fraude. E assim, o desafia com uma passagem da lei. Os doutores da Lei e os fariseus estavam menos preocupados com o pecado que a mulher cometera e mais preocupados em submeter Jesus a um descrédito e delito maior. Se Jesus inocentasse a mulher estaria contrariando a Lei de Moisés, o que seria causa de morte também. Se ele condenasse a mulher à morte por apedrejamento, estaria contrariando todos os seus ensinamentos baseados na lei do amor e da misericórdia, e ainda mais, se contrariasse a lei dos romanos que haviam tirado dos judeus o direito de aplicar pena de morte a quem quer que seja, isso deixaria Jesus em maus lençóis com os dominadores do povo judeu, os romanos. 
Bem, então, ele se abaixa e escreve no chão. E o que ele escreve?
Onde os fariseus e mestres da lei estavam nos últimos oitos dias?
Eles estavam na festa.
E o que eles estavam fazendo na festa?
Eles estavam ensinando.
O que eles estavam ensinando?
Eles estavam ensinando sobre água.
Que passagens que eles estavam ensinando?
Interessante você perguntar (na verdade, você provavelmente não perguntou nada). Uma das passagens que é ensinada na Festa dos Tabernáculos é do profeta Jeremias. A passagem é sobre pó. Que é o que você tem quando não tem água.
“Ó, Senhor, esperança de Israel, todos aqueles que te abandonam serão envergonhados. Os que se apartam de ti serão escritos sobre o , porque abandonaram o Senhor, a fonte de águas vivas. “ (Jeremias 17:13)
Então, o que Jesus faz? Ele pega uma passagem com a qual todos ali estavam familiarizados e a coloca contra eles, sem dizer uma palavra sequer. Ali há água viva, bem no meio deles, mas eles se recusam a beber dela. Eles querem prendê-lo.
O que Jesus provavelmente escreve no pó?
Os seus nomes.
Eles ensinam a respeito de Deus, da água, da esperança e da nova vida. Mas quando chega no meio deles uma pessoa que eles não estavam esperando, eles querem atirar pedras (porque a lei foi escrita sobre pedras), eles se apegam ao que lhes é familiar rejeitando a água viva que está em frente a eles.
Jesus está dizendo: Nem a lei de Moisés, nem a lei dos Romanos, mas a lei da Graça, onde a pessoa é mais importante que a letra e a pedra.
 

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